Escrito pelo Professor: Luciano Araújo
Senhora Presidente da Academia de Medicina do Rio G. do Norte, Dra. Ana Maria de Oliveira Ramos, em nome da qual Saúdo todos os acadêmicos, convidados e, especialmente, familiares e amigos do nosso estimado amigo Dr. Luiz Gonzaga Bulhões ou, simplesmente, Bulhões como era mais conhecido.
Nada e mais difícil do que em simples palavras escritas tentar, traduzir uma pessoa, por mais simples ou aparentemente insignificante que possa ser, cada pessoa tem uma história própria, uma "lenda pessoal" muito rica e sempre muito particular.
Nos somos, o fruto de nos mesmos, nossa vida sempre e o resultado dos atos que pela vida praticamos, somos através deles considerados, mais ou menos, por isso mesmo não podemos nos queixar, afinal, somos senhores de nossa própria vontade, a liberdade que Deus nos deu e o dom mais precioso que temos.
Tarefa árdua para eu cumprir, foi a missão que recebi para homenagear o Dr. Bulhões, pois, julgo de extrema dificuldade a incumbência de falar sobre um mestre e amigo, não só meu, mas de todos os que aqui se encontram. A emoção poderia me trair e pensei, pensei..., as palavras não vinham e então veio a idéia de relatar todos os momentos da nossa convivência como aluno, colega de especialidade, colega professor, mas, sobretudo um amigo. A cada instante eu descobria não só o profissional, mas, as suas grandes virtudes e qualidades.
Meu querido Amigo e Mestre Luiz Gonzaga Bulhões!
Que ventura, que honra, poder saudá-Io e prestar-Ihe esta homenagem.
Mesmo nos piores momentos, aqueles que não queremos que ocorram, quando inevitáveis se defrontarão conosco em alguma hora.
A morte do invólucro corporal que nos ameaça a cada instante, recorda-nos o caráter efêmero dos nossos atos; assim, a única coisa que podemos fazer e que pode levar-nos a felicidade e a serenidade, e obedecer a cada instante o que nos ordenam a nossa razão e a nossa consciência; por isso aqui estou, em mais uma missão a mim confiada, a tarefa de saudá-lo, homenageá-lo.
Pelo tanto que lhe conheci, posso dizer que viveste de acordo com grandes ATITUDES e extremas VIRTUDES.
ATITUDES DE REALIZADOR, DE VENCEDOR DE OBSTACULOS era inerente a sua pessoa. Nunca mostraste medo e, se o sentias, era para vencê-lo. Para você, o maior argumento era que as coisas precisavam ser feitas. ACÃO E INTELIGENCIA são qualidades capazes de fazer a fortuna de quem às possui. O que mais eu admirava era a ACÃO COM SERENIDADE.
Todo homem sábio é sereno; um espírito sereno já se encontrou consigo próprio, sabendo o que exatamente, deseja da vida. A serenidade harmoniza, exteriorizando-se de forma agradável para os circunstantes, inspira confiança, acalma e propõe afeição. O homem sereno já venceu grande parte da luta.
Sua vida de sacrifícios incluiu uma infância pobre e muita vontade de vencer. Seu esforço foi recompensado e o tornou um HOMEM SOLIDARIO.
O apóstolo Paulo, em sua Segunda Carta aos Coríntios, ressalta a futilidade do conhecimento, da glória, das posses materiais e de todas as virtudes sem que haja o amor, o amor pleno que pressupõe DIVIDIR E COMPARTILHAR EXPERIENCIAS E RECURSOS, NA CAMINHADA DA VIDA. E este amor que mais adequadamente pode expressar a VIRTUDE DA SOLIDARIEDADE. Aquele que constrói para a humanidade, caminha junto ao semelhante e Ihe estende a Mao, para ampará-lo nas dificuldades que surgem nos percalços da vida.
Desta forma, levada ao seu extremo, a SOLIDARIEDADE supera todas as virtudes: é a suprema coragem contra os preconceitos, é a ilimitada temperança que se tem para com o outro, enfim, E A MAIOR DE TODAS AS MISERICORDIAS, e o homem que se coloca ao lado do outro para ampará-lo, socorrê-lo, aconselhá-lo na breve viagem de suas existências.
A solidariedade NÃO ESPERA RECÍPROCA NEM ALMEJA RECOMPRENSAS, seja neste ou noutro mundo. A solidariedade pressupõe igualdade e discernimento para reconhecer aquilo de que o outro necessita; é necessário ABNEGAÇÃO E COMPREMETIMENTO para que possamos ajudar e também SABEDORIA para que reconheçamos nossos limites e trabalhemos e fim de superá-los.
Uma mão estendida pode ser uma força extra ou um pedido de ajuda e o homem solidário sabe ajudar, sabe aconselhar, mas também ouvir com humildade e aplicar conselhos recebidos; não sente vergonha em dividir suas fraquezas, pois TAMBÉM COMPARTILHA SUA FORÇA E SEUS TALENTOS. A solidariedade potencializa os talentos para que o homem possa servir a humanidade com o mais alto grau de todas as suas virtudes.
A sua OUTRA VIRTUDE ERA A SIMPLICIDADE, o discreto “charme da simplicidade”; o verdadeiro líder é uma das mais simples pessoas, porque ele tem assegurada a sua auto-estima, sua auto-confiança, sua paz interior e por isso não tem a menor necessidade de fazer alarde daquilo que o mundo corporativo chama de poder.
Todo poder, por maior que seja e independente da sua natureza e forma, é efêmero e passageiro. Deslumbrar-se ou deixar-se embriagar pelas aparências ou pelos valores materiais das coisas, é no mínimo mostrar indiferença aos valores realmente essenciais para a dignidade, a paz e a felicidade do ser humano nesta viagem transitória.
A futilidade do apego aos símbolos materiais, tão comum na nossa sociedade atual, em que a aparência, a ostentação e os bens financeiros, tem sido critérios de avaliação, mais importantes do que CARÁTER, BONDADE, MORAL E EDUCAÇÃO. Mal sabem esses que o verdadeiro poder do homem está na SIMPLICIDADE.
Um dos grandes desafios da vida é BUSCAR A SIMPLICIDADE. Isso consiste em ocultar seus talentos nem achar-se inferior aos outros, mas reconhecer que talentos nem achar-se inferior aos outros, mas reconhecer que talentos são dons divinos, colocados em cada um para a edificação dos propósitos de Deus neste mundo.
Quem cultiva a SIMPLICIDADE NÃO ESPERA HONRARIAS NEM RECONHECIMENTO PELO QUE FAZ. Se trabalha, é pelo prazer de sentir-se útil. Se pratica o bem, é realmente por amor a seu semelhante.
As maiores verdades são as mais simples, e assim são os grandes homens. Abençoado e o homem que nada espera, pois ele nunca se decepcionará.
Só na simplicidade esta a grandeza de tudo. As coisas não são verdadeiramente grandes, SENAO QUANDO, PELA SUA SIMPLICIDADE, dão rápida impressão de que TODOS AS PODEM FAZER, dando assim subitamente a noção máxima da sua mais fácil compreensão.
A SIMPLICIDADE E A LEI NATURAL DE TUDO. Na simplicidade esta o justo equilíbrio de tudo. Desconfiar sempre do que não seja simples. O artifício e o exagero servem só para encobrir faltas ou defeitos. QUEM FOR SIMPLES SERA GENEROSO,SERA BOM, SERA DIGNO. SERVIRA BEM A SI, AO PRÓXIMO E A DEUS.
FALAR DA NOSSA CONVIVÊNCIA, DA NOSSA AMIZADE, INCLUSIVE COMPARTILHADA POR MUITOS AQUI PRESENTES.
Amizades são feitas de pedacinhos. Pedacinhos de tempo que vivemos com cada pessoa. Não importa a quantidade de tempo que passamos com cada amigo, mas a QUALIDADE DO TEMPO QUE VIVEMOS COM ELE; cinco minutos podem ter uma importância muito maior do que um dia inteiro. Assim, há amizades que são feitas de risos e dores compartilhadas..., outras de escola, outras de saídas, trabalho, diversões; há ainda aquelas que nascem e a gente nem sabe de que, mas que estão presentes. Talvez essas sejam feitas de silêncios compreendidos, ou de simpatia mútua sem explicação.
No final do segundo ano de Medicina, em 1967, juntamente com um colega de turma Armando Jose China Bezerra começamos a freqüentar a Clinica Propedêutica Cirúrgica cujo professor titular era o Prof. Cleone Noronha aqui presente; éramos-nos monitores da disciplina de anatomia cujo titular era o Prof. Hiran Diogo Fernandes falecido ha poucos meses. Então, na disciplina do Prof. Cleone, conheci o Dr. Bulhões; diziam "ele e muito calado", porem procurei chegar perto, pois a informação que tinha e que ele era um cirurgião muito habilidoso, e o meu desejo desde que entrei para o curso de Medicina, era SER CIRURGIÃO. Disseram-me mostre serviço e você vai aprender muita coisa. Assim procedi e comecei haver, que tudo que era caso complicado Dr. Bulhões era chamado, e não era chamado somente para os casos complicados, se quebrava um equipamento ou material, por mais complicado que fosse, chamavam o Dr. Bulhões que, a boca pequena, era o Prof. Pardal da revistinha do Tio Patinhas. Assim eu entrava nas cirurgias de todos os professores da disciplina, mas, procurava sempre estar em contato com o mestre Bulhões. Naquela ocasião eu o "descobri" como meu professor preferido.
O curso médico continuava. Férias, feriado lá estava eu colado no mestre e assim, foi surgindo uma amizade, confiança mútua, e fui aprendendo tudo, pois o mestre fazia cirurgia ortopédica, torácica, vascular, geral, anestesia e procedimentos neurocirúrgicos. Ajudei a primeira cirurgia de um tumor cerebral profundo, a primeira cirurgia de fossa posterior junto com um neurocirurgião do Ceará Dr. Edson Lopes, as primeiras angiografias cerebrais e mielografias. E assim, ganhando a confiança e amizade, operei sozinho e junto com meu colega de turma e amigo Armando China, colecistectomia, esplenectomia, apendicectomia, amputações e fora as punções de carótida, punção lombar, traqueostomias; acompanhei e ajudei procedimentos pioneiros no estado como prótese de aorta, filtração do sistema porta para eschistosoma e por ai foi. Lembro-me bem quando já estava no quinto ano de Medicina, o Dr. Bulhões foi fazer um estágio de 04 meses no Rio de Janeiro, serviço do Prof. Djalma Chastinet Contreiras, neurocirurgião do Hospital do Bonsucesso. Não deu outra coisa, surgiu uma criança com um hematoma no cérebro por trauma; Dr. Ivanilton Galhardo deu o diagnostico e a criança tinha que ser operada e quem ia fazer a cirurgia? Fui convocado e como acadêmico fiz a primeira intervenção neurocirúrgica: Dr. Onofre Junior entrou comigo na cirurgia, Dr. Ivanilton na sala de cirurgia orientava onde deveríamos abrir a cabeça da criança. Depois dessa aventura fomos comemorar o feito na residência do Dr. Onofre Junior na Rua Romualdo Galvão. A criança veio há falecer poucos dias após, porem, fizemos o que era possível. Lembro-me bem da confiança depositada em mim, não só como acadêmico e estagiário da disciplina, mas também no campo pessoal; recorda bem que o Dr. Bulhões por várias vezes me emprestou seu carro novo, um Dodge Dart branco, para que fosse em casa e por vezes apanhar algum material necessário as nossas atividades. Isso por muitas vezes provocou ciúmes de alguns colegas de turma.
Alem do Hospital na época Miguel Couto, eu freqüentava também o Hospital dos Pescadores, onde Bulhões era o Diretor. Recordo de uma cirurgia inédita, quando um paciente teve seu braço decepado no ventilador do Cine Panorama, em frente ao referido Hospital; o membro amputado veio em um balde com gelo, e os senhores já podem imaginar o que foi feito: o primeiro reimplante de membro no nosso estado. La estava eu, Dr. Bulhões e o Professor Hiran Fernandes para orientar todas as suturas nos nervos, tendões, vasos e músculos decepados no antebraço. No Hospital dos Pescadores ajudava também as cirurgias do Dr. Abrão Marcos, Deusdeth Nobre, Jamil Varela, cirurgiões competentes, professores, e também amigos do mestre Bulhões. O lazer também fazia parte dessa minha caminhada; todos os sábados todos os médicos e amigos do Dr. Bulhões, que eram do corpo clinico do Hospital dos Pescadores, se reuniam para comer o acarajé da baiana nas rocas, iguarias no bar do Nemésio e, naturalmente, bastante cerveja; eu não pagava nada. Guardo com carinho na minha lembrança todo esse tempo.
Ao terminar o curso perguntei ao Dr. Bulhões que acha de tentar uma residência em neurocirurgia? Me incentivou disse que deveria ir adiante, a vaga era difícil e eu queria ir para o melhor serviço, que na época era o Hospital dos Servidores do Estado no Rio de Janeiro, ligado diretamente a Presidência da Republica, com os melhores equipamentos e profissionais. Ele assinou e atestou varias cartas de recomendação para acrescentar ao meu currículo. Prestei concurso, consegui, eram duas vagas por ano, 03 anos obrigatórios. A essa altura eu era noivo da colega de turma Graça e o pai dela disse que para viajar para residência juntos, ela também tinha conseguido a residência no mesmo hospital, tinha que ir casado. Dez dias após nossa formatura, 20 de dezembro de 1971, casei e os meus padrinhos já da para adivinhar Dr. Bulhões e o Dr. Hiran Fernandes. Eram meus ídolos e Graça também gostava de ambos e os admirava bastante.
Após o final da residência medica voltei para Natal, pois numa das ferias quando vim a Natal, conversei com Dr. Bulhões, jantamos na casa dele e perguntei se deveria voltar; lembro-me bem que tinha convite para trabalhar no Rio de Janeiro. Sempre do seu jeito, disse-me que teríamos dificuldade quanto a material, porem a decisão era minha e o que fosse melhor para mim ele aprovaria e me ajudaria. Resolvi voltar e fizemos a dupla da neurocirurgia em nossa cidade; os procedimentos que eu aprendera, o mestre ajudava e na seguinte ele fazia igual ou na maioria das vezes melhor.
Logo no ano seguinte da minha volta para Natal, ele assumiu a diretoria do Hospital Miguel Couto quando o reitor era Dr. Domingos de Lima. Dinamizou o Hospital, criou a UTI e logo me indicou para coordená-la; foi o responsável pela ampliação do hospital, com a construção do anexo dos ambulatórios, enfermaria de neurologia e neurocirurgia com centro cirúrgico próprio. Tudo isso sem alarde.
Em 1975 fui indicado como professor colaborador depois prestou concurso para o quadro permanente e ficamos juntos na mesma disciplina, agora os dois professores e neurocirurgiões, trabalhando juntos. A neuroradiologia era feita no Hospital Miguel Couto e também no Instituto de Radiologia. O numero de procedimentos cirúrgicos cada vez aumentava mais, as cirurgias varavam as madrugadas na Casa de Saúde São Lucas, Policlínica do Alecrim e Hospital Miguel Couto. Na madrugada após as cirurgias íamos ao restaurante Bela Nápoles que se localizava inicialmente na Praia do Meio. Recordo bem, que a fome era tanta, que pedíamos de entrada ostras gratinadas e LAZANHA, uma para cada; a seguir acreditem se quiser o prato principal geralmente um file ao Chateaubriand.
Dr. Luiz Gonzaga e Sra. Geruza Tinoco Bulhões recebendo comenda do Mérito Médico Dr. José Jorge Maciel concedida pelo Conselho Regional de Medicina em reconhecimento a expressiva contribuição e relevante serviços prestados a medicina do estado do Rio Grande do Norte em Junho de 1998.
Em 1990 Dr. Bulhões assumiu a Secretaria Estadual de Saúde e num momenta de dificuldade com o Pres. da Fungel em 1992, convocou-me para assumir a direção do Hospital Walfredo Gurgel. O Hospital estava em greve, os médicos com tarjas pretas, tudo por conta de um presidente da Fungel que tinha assumido e pensava que era o governador do Estado. "Eta" tarefa difícil; disse que não podia negar o pedido e assumi, pois ele me falou que confiaria em mim para resolver a delicada tarefa. Dei conta, e terminei ficando por três governos sucessivos. Com a sua ajuda e confiança iniciamos o processo de ampliação e reforma do hospital, que seqüencialmente em outros governos, foi concretizado. Em 1993 minha mãe foi vitima de uma hemorragia cerebral grave; contei com o amigo para operá-la que aceitou o desafio da intervenção cirúrgica diante de um quadro tão delicado. Infelizmente minha querida mãe veio a falecer.
Em 1999 realizamos o congresso da Sociedade Nordestina de Neurocirurgia e nesse evento, tive a oportunidade, no discurso de abertura, de saudá-lo como pioneiro da Neurocirurgia no nosso Estado. Em 2000 foi lançado o livro da história da neurocirurgia no Brasil e nele escrevi sobre Dr. Bulhões como pioneiro no nosso Estado.
São muitos momentos para relatar essa fraterna amizade profissional e pessoal, que serviu através do tempo para solidificar minha admiração e carinho para com o amigo. Essa fraternal amizade durou sempre e trabalhamos juntos por mais de 25 anos.
Com o tempo outros colegas ex-alunos chegaram para atuar na cidade e assim a neurocirurgia foi se desenvolvendo e sendo ampliada. Em 1999 fundamos Sociedade Norteriograndense de Neurocirurgia.
Tivemos dificuldades, principalmente em lidar com alguns jovens colegas que chegavam para atuar na área da neurocirurgia; ele me dizia, tenha calma que o tempo vai se encarregar de resolver tudo. Obstáculos existem sempre em nossa longa caminhada pela vida, porem temos que ser sábios para superá-los e lutar por aquilo que temos certeza que e verdadeiro.
Durante esta minha caminhada pessoal e profissional, muitas pessoas passaram por mim, dia após dia, mas somente algumas dessas pessoas, ficarão para sempre em minha memória; o Dr. Bulhões e uma delas. Essas pessoas são ditas amigas, e as levarei para sempre em meu coração, às vezes pelo simples fato de terem cruzado meu caminho, as vezes pelo simples fato de terem dito uma única palavra de conforto quando eu precisei, as vezes por ter me dado um minuto de sua atenção, e me ouvido falar de minhas angústias, medos, vitórias, derrotas ...As vezes por terem confiado em mim, e me contado também seus problemas, angústias, vitórias, derrotas ... 1550e ser amigo: e ouvir, e confiar, e amar. E amigos de verdade, ficam para sempre em nossos corações, assim como as pegadas na alma, que são indestrutiveis.
Diz um provérbio da Bíblia:
"Bem aventurado o homem que tem muitos amigos, mas bem aventurado ainda e aquele que tem um só amigo verdadeiro, este sim encontrou uma pedra preciosa."
Admiração e amizade profundas e silenciosas, como todos os grandes sentimentos, são destinados a durar a vida inteira e a transcender a morte.
A memória sobrevive num lugar da alma que se chama saudade. A saudade e o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovadas foram as experiências que nos deram alegria. O que valeu a pena está destinado a eternidade. A saudade e o rosto da eternidade refletido no rio do tempo.
Ando pelas cavernas da minha memória. Ha muitas coisas maravilhosas: momentos, cenários, lugares, viagens, eventos que marcaram o tempo da minha vida, encontros com pessoas notáveis como Dr. Bulhões.
Ai consultando o meu bolso da saudade, la se encontram as nossas alegrias e momentos de felicidade.
Diz Guimarães Rosa que "felicidade só em raros momentos de distração ... "Ela vem quando não se espera, em lugares que não se imagina. Dito por Jesus: "E como o vento: sopra onde quer, não sabemos de onde vem nem para onde vai"...
Este para mim e um momenta de felicidade por ter convivido com uma pessoa tão especial e, muito menos que chorar a sua perda, permanece em mim alegria da nossa convivência fraterna e leal.
Como as grandes lições e os grandes homens deixam sempre bons aprendizados posso dizer que:
Aprendi a amar as pessoas sem o julgamento da aparência ou modo de ser, sem etiquetas ou títulos. Amigos de verdade não precisam disso!
Aprendi também que o tempo que passamos com os amigos de verdade não é tempo gasto... É tempo ganho, aproveitado, vivido.
Acredito que tudo isso que relatei é a historia de UM VERDADEIRO MESTRE, aquele que nos ensina pelo exemplo, pela afeição, respeito, amizade e solidariedade ... E tudo isso com MUITA SIMPLICIDADE.
Dirijo agora minhas palavras de conforto, fé, solidariedade e apoio, a amiga Jerusa e aos filhos Adélia, Tatiana e Duda, que ora privados da presença do esposo e pai, se sintam reconfortados pelo exemplo de amor paternal e solidário que tiveram a oportunidade de usufruir, exemplo esse, que de forma permanente, sempre foi estendido aos genros, irmãos, netos, cunhados, compadres e amigos, que encontraram na pessoa de Bulhões a presença de um médico, conselheiro, irmão e amigo, nas horas difíceis em que dele precisaram.
Agradeço de coração, a Academia de Medicina do Estado do Rio Grande do Norte por essa honra e oportunidade de prestar essa homenagem.
A preservação da historia, sobretudo através das academias e dos acadêmicos que absorveram tal proceder, mantém acesa a chama da memória e o sentido da verdadeira imortalidade. A preservação da memória de um individuo e o seu próprio retrato.
O exemplo de vida de Luiz Gonzaga Bulhões, como homem SERENO, REALIZADOR, VENCEDOR DE OBSTÁCULOS, SIMPLES, AMIGO E SOLIDÁRIO, VERDADEIRO MESTRE, permanecerá sempre presente para todos os que tiveram o privilégio de conhecê-lo e, para os mais jovens, um caminho a ser seguido, MANTENDO-SE ASSIM A "CADEIA SUCESSÓRIA" DA MANUTENÇÃO DAS NOBRES VIRTUDES QUE DIGNIFICAM O HOMEM E ALICERÇAM O SEU CRESCIMENTO PESSOAL, MORAL E ESPIRITUAL.
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