Instituto José Maciel

As razões éticas

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Vivemos mais do que nunca num mundo dominado por preocupações éticas. O que antes se apresentava como princípio ideológico, hoje, com a falência ou o descrédito das ideologias, passou a constituir uma exigência de natureza simplesmente ética, que se impõe a todos, acima de concepções políticas e doutrinárias. A redução das desigualdades sociais, por exemplo, não é mais uma tese defendida por esquerdistas ou socialistas. Ninguém, por mais que se considere conservador ou indiferente aos problemas dos segmentos mais humildes da sociedade, tem a desfaçatez de considerar justa e correta a escandalosa distância entre as classes sociais. Pode até demonstrar pessimismo quanto à eficácia das políticas – que muitos países põem em prática – destinadas a reduzir as desigualdades. Mas posicionar-se contra essas políticas seria uma atitude frontalmente aética que poucos têm a coragem de assumir, principalmente quando se sabe que as desigualdades, quando muito acentuadas, provocam a instabilidade social. Ou seja, a disparidade entre os privilégios dos mais ricos e as privações e carências dos mais pobres gera ou contribui para agravar, juntamente com outros fatores, a violência desenfreada que se estende desastrosamente às próprias áreas de segurança que deveriam combater a criminalidade. Além disso, como as desigualdades sociais repercutem na própria economia nacional, impedindo ou dificultando resultados mais favoráveis para todos, terminam os menos interessados tendo de preocupar-se com a desumana situação de quase 17 milhões de pessoas que no Brasil atual passam fome e vivem em estado de extrema pobreza.

As campanhas que propõem o respeito às minorias têm um indisfarçável fundamento ético. O que se procura não é tanto sustentar a validade ou legitimidade do modo de pensar ou de comportar-se dessas minorias, mas o direito de serem como são. A tentativa de eliminar os preconceitos é para evitar que as pretensas superioridades da maioria dominante – que são superioridades quantitativas e não propriamente qualitativas – esmaguem o que existe de diferente ou singular nas minorias (in)dependentes. E uso a palavra “tentativa” porque, em muitos casos, apesar do êxito das campanhas empreendidas, os preconceitos permanecem intactos, não obviamente ostensivos ou sequer visíveis, mas disfarçados e ocultos. Não se trata, em meu modo de ver, de contrapor valores: os praticados pela maioria dos cidadãos e os que são adotados pelas diversas minorias. Trata-se, sim, de reconhecer a compatibilidade entre esses valores, de admitir a necessidade de convivência compreensiva entre eles, de inseri-los de forma definitiva na natural pluralidade e complexidade das relações humanas.           

Há uma ânsia de liberdade, de construção de um espaço individual, de natureza comportamental e política, em países totalitários de todo o mundo. Alguns deles, controlados por ditaduras familiares que se prolongam há várias gerações, resistem sangrentamente aos movimentos revolucionários que lutam por mudanças (ainda não claramente definidas). Outros procuram fazer concessões que diminuam o ímpeto dos protestos e manifestações. Pondo de lado as manipulações das grandes potências, interessadas em manter monopólios econômicos e alianças estratégico-militares, está presente em todas essas insurreições uma motivação ética: a rejeição à corrupção e ao despotismo dos detentores do poder, que não distinguem nunca o público do privado e vivem suntuosamente às custas da população empobrecida e aviltada. Essa rejeição é secundada por um anseio, principalmente dos jovens, de uma forma de vida digna, que permita sua autoafirmação. 

A ética passou a ser a pedra de toque para o julgamento da atuação das nações em âmbito internacional. Sobretudo das nações do primeiro mundo, lideradas pela superpotência que exerce poder hegemônico imperial – os Estados Unidos. A política externa desses países, pontilhada de guerras, bloqueios e sanções aos países “hostis”, acarretou a erosão de sua imagem. Eles perderam sua autoridade moral e impõem agora suas decisões internacionais apenas com base na força... 

Tribuna do Norte -  Ivan Maciel de Andrade [ advogado ]
 
 Natal/RN - Brasil,