Instituto José Maciel

DORYAN GRAY

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ARTISTA DE TALENTO MÚLTIPLO, CONHECEDOR COMO POUCOS DO SEU OFÍCIO DE PINTAR,
ELE CAPTA REGIONAL NATALENSE COM OLHOS DE POETA ENAMORADO.

Pintura, tapeçaria, desenho, gravura, escultura, são linguagens pelas quais o artista plástico Doryan Gray Caldas, nascido em Natal, 1930, transita com tranqüilidade e desenvoltura. Apaixonado pela paisagem, fatos e gente do seu estado, o Rio Grande do Norte, mormente a capital de luminosidade sem igual no país, não há um só trabalho seu que não reflita essa característica.

Longe das agitações artísticas nacionais dos centros mais efervescentes, vivendo numa cidade estrategicamente situada na esquina do mundo, como seus habitante proclamam, e cujo vertiginoso crescimento ele acompanhou, no decorrer de mais de quarenta anos de carreira, Doryan construiu uma carreira sólida que se reflete num trabalho de imensa empatia com o espectador, que se sente fascinado pelo autor refletir na obra a sua realidade cotidiana.

Pioneiro das artes plásticas no Rio Grande do Norte, pois foi um dos três artistas que, em 1950, rompendo com ranços conservadores, participou, ao lado de Newton Navarro e Ivon Rodrigues do 1º Salão de Arte Moderna de Natal, realizado numa sala do prédio da Cruz Vermelha, então situado em pleno centro da cidade que se modernizava lentamente, após o impacto do final da Segunda Grande Guerra. Como se sabe, Natal teve importante papel  na vitória do aliados, graças às bases norte-americanas montadas nas suas cercanias.

O evento, como não podia deixar de ser, causou celeuma entre a inteligência local e visava justamente proporcionar nova visão das artes plásticas dentro dos mesmos ideais com que os chamados intelectuais paulistas e cariocas organizaram, em 1922, a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo.

Desde então, o trabalho de Doryan Gray só fez crescer. Principalmente no que diz respeito à temática. Adotou a cidade de Natal como principal personagem de sua pintura, captando-a nos seus aspectos mais tradicionais, como o casario antigo da cidade, do bairro das Rocas, principalmente, às margens do rio Potengi, as praias e suas incríveis e belas dunas, além de barqueiros e pescadores, que além do seu indiscutível valor artístico, tem outro ainda mais significativo: documentar sua paisagem humana e a sua natureza.

Para transmiti-lo, o artista potiguar utiliza variadas linguagens, como a tapeçaria, em cores fauves, verdadeira pintura mural onde, invés das tintas, são as lãs que tecem os festejos folclóricos com seus movimentos coreográficos e indumentários em cores berrantes, poéticos todavia. Dorian é antes de tudo um poeta na acepção da palavra, ou nos seus painéis em grandes dimensões espalhados por edifícios públicos e hotéis de luxo contando fatos históricos e heróis que fizeram com seus atos e ousadias políticas um estado que se orgulha dos seus feitos.

Nas suas pinturas, a cor tem valorização absoluta pela capacidade do autor captar na tela a atmosfera tipicamente local, que valoriza, em seus diversos tons, a cidade que, pela sua topografia inusitada, situa-se entre rio, dunas e mar, que vão se espraiando pelo litoral como se o pintor fosse delineando seus contornos nas telas pelo pincel e espátula. O resultado não deixa de ser praticamente impecável.

Com isto, Doryan Gray declara-se um enamorado de suas belezas e a razão maior de nunca tê-las abandonado. O que não o impediu de expor, com sucesso, em outra capitais brasileiras, como Fortaleza, Recife, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, nem no exterior – Washington e Buenos Aires.

Nessas cidades, mostrou seu trabalho com a convicção de ser um artista da Natal de seus ancestrais, de pais amantes de poesia e das formas plásticas, razão principal de sua criatividade. Daí a opção de nunca abandoná-la.

Estou certo hoje, depois de muitas andanças (pela Europa, França e Bahia)”, diz ele, “que fiz a escolha certa”. Principalmente como artista plástico que prioriza a sua aldeia, à semelhança de Chagall: o rio e o mar, as margens e as dunas, o casario das Rocas e as feiras suburbanas, o folclore ingênuo dos galantes do Bumba-meu-boi, e as mutações constantes desse mar com seta negra apontando em Areia Preta, a viagem – ou nunca partir na aventura de Mallarmé. Mesmo sabendo que a aventura propicia a alegria compensadora e os cansaços da idade nada detém meu coração de ficar aqui. Filhos e mulher, raízes plantadas, pai e mãe em terra que pisaram e amaram. Este retrato dói, como diria Dummond, mas é intransferível. Sou também este incurável provinciano à semelhança do nosso Câmara Cascudo, sem nenhuma pretensão de comparação, mas se alguma emoção vibra no coração deste poeta é para cantar os dias longos entre os meus, os que amei e os que elegi”

O múltiplo artista Doryan Gray Caldas, de nome herdado de misterioso e enigmático personagem de Oscar Wilde, carrega na bagagem, além da arte, o cronista e o poeta, o pesquisador e o historiador. Membro da Academia Norte-Riograndense de Letras e de outras importantes instituições culturais, com honrarias de reconhecimento ao seu valor como intelectual, fez, porém, das artes plásticas e suas diversas linguagens uma leitura própria que, hoje, se confunde com a cidade que o viu nascer e o projetou como seu intérprete – artista mais representativo.

 
 Natal/RN - Brasil,