Instituto José Maciel

Nilo Pereira

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Nilo Pereira: 100 anos

Conversando com o presidente da Academia Norte Rio-Grandense de Letras, Diógenes da Cunha Lima, pude sentir o entusiasmo daquele homem de saberes diversos, um amigo querido do meu saudoso pai, escritor Nilo Pereira, por ocasião do centenário de nascimento deste, uma data, 11 de dezembro, a ser celebrado naquele estado durante todo este ano.
Nilo trouxe por toda a sua vida a infância, a sua Pátria Espiritual. Nessa infância o mundo de Ceará-Mirim, dos canaviais, das belas praias de Jacumã, Porto Mirim e Muriú, dos engenhos, que o fazia menino todas as vezes que voltava à “ditosa pátria minha amada”.
Depois de prestar vestibular no Rio de Janeiro, cursando por um ano, Direito, transfere-se para Recife onde se formou, casou e construiu a família, além de ter fixado a sua vida profissional, tendo recebido os títulos honrosos de Cidadão do Recife e, depois, de Pernambuco.
Os pernambucanos por escolha e não por nascimento sabem ser fanaticamente pernambucanos, exclama Nilo numa exaltação ao estado que escolheu para fixar a sua vocação, singular e plural, de intelectual.
Intelectual do pensamento cognitivo e também da ação embasada pela inteligência. Múltiplos na diversificação de um vasto conhecimento, fruto de horas intermináveis de estudos e pesquisas, iniciadas no Ceará-Mirim com a professora Adélia de Oliveira, tendo ao seu lado o humanista e escritor Edgar Barbosa, cujo centenário ocorreu também este ano.
Ao receber o título de cidadão recifense na Câmara Municipal, exortou: “O recifensisado não é menos recifense do que recifense nato. Identificam-se num mesmo amor, sendo que o meteco se transforma numa espécie de cristão-novo: entrega-se a exageros de convertido”.
O jurista, escritor e poeta Diógenes da Cunha Lima me fala de um projeto editorial que pretende executar tanto pela Academia de Letras do Rio Grande do Norte, quanto pelo Conselho de Cultura daquele estado. A Governadora Vilma de Faria, que sempre me trata como “Roberto, o filho do escritor do Ceará-Mirim”, saberá ser sensível à celebrações de um centenário que suponho dignificar a tradição cultural do Rio Grande do Norte.
Uma outra preocupação de Diógenes é com o Guaporé, engenho onde meu pai passou a infância, hoje, pelo desuso, em péssimo estado de conservação e com querelas porque todos desejam respeito e preservação a essa página da história do Ceará-Mirim.
Quando da restauração daquela casa-grande o meu pai, num discurso emocionado, agradeceu o apoio e a presença das autoridades, começando pelo Governador Tarcisio Maia, ao então Senador Geraldo Melo, este pela cessão da casa por comodato de 99 anos à Fundação José Augusto, mas vaticinou: “se o Guaporé não tiver um uso poderá voltar a ruína, deixando cair não apenas a pedra e a cal, mas parte da história da civilização do açúcar”.
Hoje, naquela casa afidalga, onde ainda ressoam vozes e passeiam sombras da história econômica, política e social do Ceará-Mirim, está o Museu Nilo Pereira que deverá se incorporar à Fundação Nilo Pereira, entidade ainda em gestão.
Nilo, íntegro e integral, oceânico nos saberes aprimorados, deixou às gerações futuras um legado de inteligência, de moral e ética, de Fé cristã, de cidadania, homem família, amigo leal, fiel, às suas origens, à sua terra, aos ensinamentos que emolduraram a sua conduta e o seu caráter, à infância que não se perdeu no adulto.

Artigo de Roberto Pereira
Publicado no O Jornal de Hoje

  
 
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