MANUEL AUGUSTO DE MEDEIROS
Oitavo filho do casal Tenente-Coronel da Guarda Nacional Francisco Antônio de Medeiros e Ana Vieira Mimosa, Manuel Augusto de Medeiros foi levado por seu irmão, Padre Sebastião Constantino de Medeiros, para fazer seus estudos em Olinda. Preparado, foi estudar em Salvador, onde se formou na antiga Faculdade de Medicina da Bahia, a 13 de dezembro de 1884 - em 29 de junho daquele ano, havia apresentado a sua tese de Doutoramento, da qual seus descendentes ainda mantêm um exemplar original impresso naquele mesmo ano, na Bahia, pela "Typographia dos Dous Mundos", conforme a ortografia então vigente.
Ele foi o primeiro seridoense a formar-se em Medicina. A sua These era composta de uma dissertação sobre "Hernias Inguinaes" (Cadeira de Pathologia Cirurgica) e três Proposições: "Ar Atmospherico" (Cadeira de Chimica Medica), "Considerações acerca do Abortamento" (Cadeira de Obstetricia) e "Hemato-Chyluria dos Paizes Quentes" (Cadeira de Pathologia Medica).
Médico humanista, na sua Fazenda Belo Horizonte desenvolveu na casa-grande um verdadeiro hospital-albergue, onde hospedava os doentes e seus familiares. Aí mesmo havia a botica, onde eram aviados os remédios, manipulados segundo as fórmulas que ele receitava. Suas esposas, cada uma a sua vez, dedicavam-se à assistência aos doentes e à administração do hospital-albergue, enquanto este existiu. (A Fazenda Belo Horizonte atualmente é propriedade de sua bisneta Orione Oliveira Silva de Azevedo, que zela cuidadosamente pela fazenda e pela casa-grande).
Ele havia nascido na Fazenda Umari, município de Caicó, no Rio Grande do Norte, a 30 de março de 1854, conforme o assento de seu batismo, transcrito por Olavo de Medeiros Filho no seu excelente livro "Caicó, Cem anos atrás."
MANOEL, filho legitimo de Francisco Antonio de Medeiros, e de Anna Vieira Mimoza, naturaes e moradôres nesta freguezia, nasceu aos trinta de Março de mil oito centos e cincoenta e quatro, e foi batizado com os santos oleos na fazenda Umary desta Freguezia aos onze de Maio do dito annos pelo Reverendo Coadjutor Francisco Justino Pereira de Brito de minha licença. foram padrinhos, João Baptista de Albuquerque Pereira, solteiro, morador na Freguezia do Cuité, e Maria Vieira do Sacramento, cazada e moradora nesta do Siridó; de que para constar mandei fazer este Assento, que assigno. Conego Vgrº Manoel Jozé Fernes."
Brasília da Mota Medeiros
Casou três vezes: a primeira, em 1882, ainda estudante de Medicina, com 28 anos de idade, com Brasília da Mota Medeiros, de dezessete anos de idade, natural da capital da Bahia, filha do Juiz de Direito Belmiro Pereira da Mota e sua mulher Carolina Ramalho da Luz Mota. Ele pretendia casar com a segunda filha do casal, mas o futuro sogro alegou que não poderia permitir ou que não ficaria bem que uma moça mais nova casasse antes de sua irmã mais velha!
A primeira mulher lhe deu cinco filhos, e faleceu, em Salvador, a 29 de novembro de 1890, com 25 anos de idade, em decorrência do último parto, havido em 29 de setembro anterior. O jornal então existente em Caicó, O POVO, deu a seguinte notícia em 14 de dezembro de 1890, conforme o grande pesquisador, genealogista e historiador Olavo de Medeiros Filho transcreve, com ortografia atualizada, no seu excelente livro "Caicó, Cem anos atrás"
"Depois de 60 dias de horríveis sofrimentos faleceu no dia 29 do mês passado na cidade da Bahia a Exm. Sra. D. Brasília da Mota Medeiros, virtuosa consorte de nosso conterrâneo Dr. Manuel Augusto de Medeiros. A infeliz senhora contava apenas 25 anos de idade quando a morte a surpreendeu, roubando-a dos braços do desditoso esposo, a quem deixou cinco criancinhas, como hipoteca de seu amor. A finada era filha da cidade da Bahia, das conhecidas famílias Mota e Andradas, e foi vítima de uma septicemia consecutiva a um parto. A nosso desolado amigo Dr. Medeiros e seu ilustre pai Ten-Cel Francisco Antônio de Medeiros acompanhamos em seus profundos sentimentos."
Sr. Belmiro Pereira da Mota D. Carolina Ramalho da Luz Mota
Adiante, na mesma data, 14 de dezembro de 1980, O POVO publicou o convite para a missa do 30º dia de seu falecimento:
"D. BRASÍLIA DA MOTA MEDEIROS
Francisco Antônio de Medeiros convida aos parentes e às pessoas de sua amizade para assistirem a uma missa que mandar rezar na matriz desta cidade, no dia 29 do corrente, às 8 horas da manhã, pela alma de sua prezada e nunca esquecida nora D. Brasília da Mota Medeiros, esposa do seu filho Dr. Manuel Augusto de Medeiros, falecida no dia 29 do mês passado na cidade da Bahia. Caicó, 12 de novembro de 1890" (sic).
A segunda vez, ele casou com Francisca Dionísia Pereira da Mota (que passou a assinar-se Francisca Mota de Medeiros), irmã de sua falecida mulher, mais nova do que esta, aquela com quem ele pretendera casar inicialmente, com o que não havia concordado o futuro sogro. Não tenho a data deste seu segundo casamento, mas posso inferir que foi realizado poucos meses depois de ele ter enviuvado, porque em 29 de janeiro de 1892 já nascia sua primeira filha deste matrimônio, a qual deve ter sido gerada em maio de 1891 - sua primeira mulher havia falecido em 29 de novembro de 1890. A pouca idade dos seus filhos e as duas gêmeas caçulas, naturalmente, levaram-no a matrimoniar-se o mais cedo possível, a fim de ter alguém para cuidar das crianças - o que foi ainda mais facilitado, porque a própria D. Francisca Dionísia, moça nova ainda, propôs à família e a ele que ninguém melhor do que ela saberia cuidar daquelas crianças já a ela afeiçoadas e às quais ela queria tanto bem. Seus pais, evidentemente, concordaram e, assim, o jovem médico realizou o seu antigo sonho. Seu casamento foi frutífero. Ela teve quatorze filhos em dezenove anos de casamento, antes de falecer em 1910.
A terceira vez, ele casou logo no ano seguinte, a 27 de julho de 1911, na Matriz de Jardim do Seridó, com Maria Raquel de Medeiros, nascida em Jardim do Seridó, filha de Clemente Alexandrino Pereira de Brito e Maria Raquel de Medeiros, conforme o termo do seu casamento.
Aos vinte e sete dias do mês de julho de mil novecentos e onze na Matriz Perante as testemunhas Antonio Cezino de Medeiros e Ambrósio Florentino de Medeiros; assisti ao recebimento matrimonial dos contratantes Dr. Manoel Augusto de Medeiros e Maria Raquel de Medeiros, ele viúvo por falecimento de Francisca da Motta Medeiros, e ela filha legitima de Clemente Alexandrino Pereira de Brito e Maria Raquel de Medeiros, já falecidos; e para constar mandei fazer este assento que assino O Vigário Ignácio Cavalcante.
Deste casamento nasceram cinco filhos. Ela faleceu em 1º agosto de 1922, deixando-o viúvo mais uma vez - mas ele sobreviveu pouco tempo, menos de quatro meses. Faleceu a 21 de novembro de 1922, com 68 anos de idade, cego, possivelmente em decorrência de diabete. Alguns familiares dizem que ele teria sido operado de catarata, advindo-lhe contudo a cegueira que o acompanhou nos últimos dias de vida, versão que não posso assegurar. O seu termo de óbito diz ter ele falecido de congestão do figado . Eis o registro do Livro de Óbito nº 1, da Paróquia de Jardim do Seridó, como transcrito no livro "Um Passo a Mais na História de Jardim do Seridó", de José Nilton de Azevedo.
"Manoel Augusto de Medeiros, viúvo, filho de Francisco Antônio de Medeiros, morador no Belo Horizonte, de cor branca, faleceu com enfermidade de congestão do fígado no dia 21 de novembro de 1922".
Rigoroso quanto aos seus princípios morais, foi uma pessoa muito benquista em toda a região seridoense, não só por sua obra de medicina assistencial, mas, também, por sua retidão política - era membro atuante do Partido Republicano e foi eleito Deputado à Constituinte do Estado do Rio Grande do Norte, para a Segunda Legislatura do Período Republicano, triênio 1892/1893/1894, sobressaindo na tribuna por sua eloqüência e sua combatividade.
Escrito por: Dr. Tarcizio Dinoa Medeiros
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