O Hospital Psiquiátrico no Rio Grande do Norte
A história dos hospitais psiquiátricos no estado tem como expoentes o Hospital Colônia Dr. João Machado e as instituições que o precederam: o Lazareto (1882), o Asilo de Alienados (1911) e o Hospital de Alienados (1921).
O Hospital Colônia Dr. João Machado teve a sua construção iniciada em dezembro de 1948 e em janeiro de 1957 inaugurou a metade do seu prédio, que somente foi concluído em 1959. Esse longo período de construção não foi seguido de uma preparação de pessoal para a nova organização que se pretendia, em termos de assistência psiquiátrica. Assim sendo, se pode dizer que o Hospital recém construído foi o prolongamento das instituições que o precederam: o Lazareto, criado no ano de 1882, o Asilo de Alienados em 1911 e o Hospital de Alienados em 1921, com médico clínico.
O Lazareto destinava-se a atender à escória da sociedade, não havia especificidade no atendimento; enquanto o Asilo de Alienados e Hospital de Alienados prestavam assistência aos loucos. Apesar da especificidade estas instituições não contavam com médico psiquiatra. Somente em 1935, chegou a Natal o primeiro psiquiatra, o Dr. Vicente Lopes que iniciou as primeiras terapêuticas da época (banhos em águas tépidas, camisa de força, abscesso de fixação, calabouço e fixação no leito).
Trinta anos após, em 1951, o número de internamentos no Hospital de Alienados era maior que o de altas, e a taxa de óbitos era em torno de 10% dos pacientes internados ano. Para atender à demanda havia no hospital o leito chão.
Um novo hospital
Em Natal, na década de 1940, as condições de atendimento do Hospital de Alienados foi alvo de uma reportagem da revista O Cruzeiro. Essa publicação repercutiu na Câmara e no Senado, exigindo providências do governo. Na época, governava o estado o Dr. José Varela, que comprou um terreno na Av. Alexandrino de Alencar para a construção de um hospital por cem contos de réis.
Na década de 1940, as degradantes condições de atendimento do Hospital de Alienados foram destaque da revista O Cruzeiro. O fato repercutiu na Câmara e no Senado, exigindo providências do governo.
A implementação dessa nova estrutura significava uma ruptura com a concepção de Hospital de Alienados, então existente. Tratava-se de uma instituição que não concebia o paciente como alienado mental, e por isso oferecia uma diversidade de serviços de natureza profilática e de reintegração social. Havia uma área destinada à plantação de hortaliças para o consumo do hospital, que funcionava como prática terapêutica.
A estrutura física do hospital era composta de 5 pavilhões: a parte da frente, destinava-se à administração e ao setor de pacientes em alta; o corpo central à assistência clínica ao paciente (clínica odontológica; sala para pequenas cirurgias; raio X; uma rouparia); na ala leste um pavilhão com 6 enfermarias; na oeste, um pavilhão semelhante, que somente foi concluído após 2 anos da inauguração do hospital.
A construção, supervisionada pelo Dr. Machado, foi feita com esmero, obedecendo aos critérios sanitários, em que o piso e parte da parede foram construídos em marmorito, raro na época.
Em 1951, o número de internamentos no Hospital de Alienados era maior que o de altas. Para atender à demanda havia no hospital o “leito chão”.
Após seis meses de sua inauguração foram transferidos para o novo hospital os 230 pacientes do Hospital de Alienados e seus funcionários. O Hospital Colônia oferecia as condições para uma nova ambiência hospitalar, no entanto, a falta de treinamento do pessoal não permitiu o avanço esperado. Os pacientes continuavam encerrados em enfermarias, contribuindo para a alienação mental.
Com a criação da Faculdade de Medicina, em 1961, esta assumiu a enfermaria “Jarbas Pernambucano” destinada ao ensino médico. Foi criado por Dr. Machado um Centro de Investigação e Treinamento em Saúde Mental, onde se discutiam os casos, os diagnósticos e tratamentos e se realizavam estudos sobre Psicopatologia, Psicologia Médica e Assistência Hospitalar. No entanto, essas atividades ficavam circunscritas ao ensino, sem retorno para a instituição.
Pronto Socorro psiquiátrico
Numa tentativa de diminuir o número de internamentos, foi construído em 1972, o Pronto Socorro Psiquiátrico. A lógica desse tipo de atendimento era a compreensão de que o ambiente familiar seria melhor para a recuperação do doente mental. Mas, a experiência não teve o resultado esperado. Dificuldades em romper com a estrutura antiga e a falta de apoio institucional foram os principais fatores desse insucesso.
Essa estrutura antiga, representada pela política hospitalocêntrica, que imperou no país, por mais de um século, fez com que os hospitais psiquiátricos continuassem a receber uma demanda acima de sua capacidade. E, como conseqüência dessa política, passou a existir no Brasil, o chamado “leito chão”, sendo que o Hospital Colônia chegou a ter, em determinado período, 328 desses leitos e 240 camas.
Já em 1982, o Ministério da Saúde publicou uma portaria proibindo a criação de novos leitos em hospitais psiquiátricos, mas, somente em 2005, a política assistencial da saúde conseguiu o redirecionamento dos recursos financeiros, destinando 60% do orçamento para o funcionamento dos Centros de Atendimento Psicosocial – CAPS.
Após 50 anos de sua inauguração, sem reparos na sua estrutura física, o hospital enfrenta desgastes. A parte em que funcionava o arquivo ruiu em 2007, estando, hoje, em 2009, em processo de reconstrução. Atualmente, diminuiu o número de pacientes, são 153, e entre esses há 14 “residentes”.
Hoje, diante do avanço do conhecimento e da tecnologia e das lutas pela utopia de um exercício da cidadania, a assistência psiquiátrica pública permanece na retaguarda. Na percepção dos pacientes a estrutura hospitalar é ainda a expressão de um isolamento para o qual a libertação só existirá em uma vida futura. Os versos de André da enfermaria Jarbas Pernambucano expressam esse sentimento:
Lá no céu as roseiras não têm espinho.
As crianças lá, não choram e
Não se prendem passarinhos.
Escrito pelo Dr. Joaquim Eloi Ferreira da Silva.
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