Uma sufragista da eleitoral do Estado primeira geração
Alzira Carvalho Villar, pertence a valorosa e pioneira geração de eleitoras que pela primeira vez no Brasil e particularmente no Rio Grande do Norte exerceram os seus direitos políticos por força dos dispositivos legais estabelecidos pela lei 660, de 25/10/1997, que assegurava a mulher potiguar o direito de votar e ser votada. Como ela, seriam igualmente beneficiadas e qualificadas eleitoras na forma daquele estatuto legal as suas conterrâneas martinenses Maria da Conceição Onofre Dias de Andrade, Ana da Costa Gondim e Ana Amélia dos Santos. Os despachos conclusivos exarados em suas petições de alistamento foram do então Júiz de Direito da Comarca o Dr. João Vicente da Costa, datadas de 28/04/1928.
A partir daí, Dona Alzira Villar passaria a exercer intensa e ativamente no município de Martins e sua cidadania política ao lado de seu esposo Jocelyn Villar, com quem se consorciaria em 8 de junho de 1921 naquela cidade serrana.
Jocelyn se realizara como uma rara e expressiva afirmação de funcionário público do Telégrafo Nacional, de advogado militante naquela região (formado em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito do Ceará em 1933), de homem de negócios, de mantenedor da ordem pública no combate ao banditismo e sobre tudo como prestigioso líder político e homem de Estado tendo deixado seu nome vinculado a importantes setores da vida pública, política e administrativa do município do Rio Grande do Norte. No estado exerceu relevantes atividades nas áreas executivas, legislativas e no âmbito governamental. No governo Rafael Fernandes foi Oficial de Gabinete do governador e na administração de Aluizio Alves ocupou cargos de confiança como Secretário de Estado do Interior e Justiça, Agricultura e Segurança Pública. Na Assembléia Legislativa participou consecutivamente de três legislaturas (1956-1958, 1959-1962 e 1963 a 1966) além de ter atuado como Vice-Presidente da Casa e 1º Secretário da Mesa. No governo municipal de Martins, Jocelyn deixaria uma extraordinária obra administrativa do mais elevado alcance social, econômico e cultural com substanciada em grandes empreendimentos ligados aos setores educacionais, cooperativistas, urbanísticos, assistenciais e agropecuaristas, tanto da sede como nos distritos municipais.
Ao seu lado, Dona Alzira revelou-se infatigável e atualmente colaboradora em todos os segmentos de sua abrangente militância político-administrativa demonstrando em muitas oportunidades uma espantosa capacidade de liderança e visão administrativa aliada a um altivo independente espírito de lutas cívico-democráticas, muitas vezes postos à prova. Na tumultuada campanha eleitoral de 1934, quando as forças ditatoriais da Interventoria Mário Câmara espelhavam o terror e a desordem em todo o Estado gerando um clima de intranqüilidade e exarcebações partidárias voltadas contra a candidatura Rafael Fernandes candidato do Partido Popular ao governo do Estado, ela esteve lutando desassombradamente ao lado de seu marido contra a violência e o crime oficializado cujo deplorável e único objetivo seria o de subverter a ordem pública e implantar o pânico e o tumulto no seio das populações interioranas. Nas eleições de outubro daquele ano, com todas as estrada e ladeiras que davam acesso a cidade de criminosamente empiquetadas, Dona Alzira, num gesto de coragem e decisão pessoal, comandava legiões de eleitores que subiam a serra para votar transpondo corajosamente as trincheiras da ilegalidade governamental levando aqueles contingente eleitorais a cumprirem seus compromissos de cidadãos brasileiros. O poeta e deputado estadual Cosme Lemos, assim registrou esta ocorrência: “... Ela foi para Jocelyn o que Anita fora para Garibaldi. Nos momentos mais árduos da campanha do Partido Popular, quando os homens fugiram do caminho do dever partidário, Dona Alzira comandava o eleitorado martinense, destemida, enfrentando as forças coatoras da Interventoria Federal, expondo-se ao lado do marido, a todos os perigos, numa decisão própria dos temperamentos liderantes”. O escritor martinense Raimundo Nonato acrescenta: “... E diga-se que, nesses embates, por vezes estranhamente perigosos, ela sempre esteve ao lado do seu esposo, com ele batalhando destemidamente”.
Como suas companheiras sufragistas de todo o Estado ela sentiu o impacto decorrente das profundas modificações sociais, políticas e religiosas impostas à sociedade e ao próprio ambiente familiar pela nova situação da mulher face à sua emancipação política, civil e social criadas pela lei 660. Esta influente particularidade motivaria consequentemente um certo retraimento e indecisão no seio da comunicação feminina cujo os receios iriam refletir-se negativamente nos alistamentos do primeiros anos subseqüentes a aprovação e execução da mencionada lei. Na verdade, os primeiros resultados numéricos dos alistamentos femininos não correspondentes a expectativa da opinião pública nacional que vinha acompanhando a entusiástica campanha sufragista no Rio Grande do Norte. Reprimidas a alienadas do processo político-social por um longo período histórico, era natural (como já aludimos anteriormente) seu despreparo e indecisão neste sentido. Incompreensões familiares, preconceitos sociais, tabus religiosos e dependência econômica, foram fatores determinantes geradores deste comportamento cujos perniciosos resíduos, só a partir da belecera no âmbito nacional o sufrágio político e o direito a elegibilidade seria definitivamente superados. No ano de 1928, pouco mais de 20 mulheres compareceram às sessões eleitorais para votar o que confirma as nossas assertivas a respeito.
Eleita em 1957 para prefeitura do município de Martins em substituição ao Dr. Francisco Xavier de Lucena, assumiu o exercício de suas funções em 31 de março de 1958 e governou o município até 1963 quando foi substituída por seu sobrinho Dr. João Bosco Amorim de Carvalho. Não obstante as restritas limitações orçamentárias Dona Alzira realizou uma marcante administração tendo efetuado importantes melhoramentos na cidade e nos distritos municipais. Com o auxílio do governo estadual construiu dois açudes: o “Serrinha” e o “Gama” de pequena capacidade cúbica mas de grande valor para a economia do município e apreciável serventia para as populações vizinhas. Reconstruiu estradas, fez calçamentos, construiu um novo cemitério na cidade, um mercado público em Mineiro. Executou serviços de urbanização na sede e nos distritos. A educação, a saúde e serviços básicos de utilidade pública foram cuidadosamente realizados na sua administração. Com a morte de Jocelyn Villar ocorrida no Hospital das Clínicas de São Paulo em 5 de fevereiro de 1970, Dona Alzira retraiu-se das atividades políticas e recolheu-se a privacidade do lar e de seus familiares em cujo convívio desfruta da tranqüilidade e conscientização do dever cumprido e do grande trabalho realizado em benefício de sua terra e de sua boa gente. Foram seus pais Joaquim Inácio de Carvalho e Maria Gomes de Carvalho figuras de larga projeção social e de grande conceito e tradição genealógica ao município já falecidos há muitos anos. Do seu casamento com Jocelyn não houve filhos.
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