09 de Setembro de 2009
Ticiano Duarte - Jornalista
Uma das figuras esquecidas pela memória política do estado, é a de Jocelyn Villar de Melo, líder político na zona oeste, mas, atuando sobremaneira no município de Martins, onde foi prefeito e seu representante, na Assembléia Legislativa, por várias legislaturas.
Oriundo dos quadros do velho perrepismo, em seguida da UDN, era cunhado do ex-senador Joaquim Inácio de Carvalho, que foi também vice-governador do Rio Grande do Norte, ex-prefeito de Natal e deputado estadual. Apesar de nascido em Ceará Mirim, em junho de 1895, Jocelyn chegou em Martins, no ano de 1920, como telegrafista e ali fixou-se, definitivamente, realizando uma carreira que o consagrou na vida pública, como político sério e honesto.
Tive com ele um relacionamento de amigo e companheiro de luta, em certa fase de nossa história política, nos anos 60, quando da ascensão de Aluízio Alves, seu grande amigo e que no seu governo, fora convocado para ocupar as secretarias de Interior e Justiça e Agricultura.
Em 1955, Jocelyn rompeu com a UDN, divergindo do acordo firmado entre Dinarte e Café Filho, cujo objetivo era abrir vaga da senatoria para efetivar o suplente Reginaldo Fernandes, pessoa ligadíssima ao ex-presidente da República. Jocelyn saiu candidato ao governo do Estado, apoiado pelo PSD e liderando a dissidência udenista na zona oeste e trazendo o apoio dos Rosados, de Mossoró.
Foi candidato a deputado federal, na redemocratização, em 45, para compor a Assembléia Nacional Constituinte, pela UDN, juntamente com José Augusto Bezerra de Medeiros, Aluízio Alves, Duarte Filho. Contava-se, logo após o pleito, à boca pequena, que ele e Duarte Filho tinham sido vítimas de uma fraude nos mapas, na apuração final, no próprio Tribunal Regional Eleitoral. Esta é outra história (das fraudes e das brejeiras nos mapas), que para ser contada em detalhes vai requisitar muito espaço em jornal ou de livro com muitas páginas.
Formado em direito, pela Faculdade do Ceará, em 1933, Jocelyn não exerceu a profissão, dedicando-se totalmente à atividade pública e política, tendo sido deputado estadual de 1955 a 1967.
Era uma figura curiosa, na sua forma de falar, o hábito de dizer, “pe-pe-pei, pou-pou-pou, essa coisa toda, essa coisa toda...”. Na campanha de 1955, disputou o governo contra Dinarte Mariz e a oposição o apelidou de “sabiá molhado”. O cabelo era bem penteado, óculos escuros, vestia sempre tropical inglês, a brilhantina realçava nos seus cabelos lisos, o bigode fino bem aparado. Era um excelente articulador político. Paciente, conversava pouco e ouvia muito. Quando deputado, no governo de Aluízio, intermediou muitos contatos com a oposição tentando aprovação de muitas mensagens importantes encaminhadas ao poder legislativo, onde o governo era minoritário.
Certa feita, passou mais de 48 horas acordado, aguardando o término de uma partida de pif-paf, no Natal Clube, na qual participava um deputado oposicionista que tinha um gosto apurado pelas cartas de baralho. Ao término da maratona que Jocelyn aguardou pacientemente, tomando café e fumando, levou o seu companheiro de parlamento para votar favorável ao governo.
Na fase do regime militar, logo no início do movimento de exceção, foi alvo de perseguição, por parte de alguns dos seus inimigos gratuitos que tinham acesso e prestígio junto aos órgãos de informação e de investigação da ditadura. Foi humilhado, convocado inúmeras vezes a prestar esclarecimento. Nada foi apurado contra a sua vida limpa e honrada. Mas, deixou marcas de constrangimento e decepções.
Na sua administração, na prefeitura de Martins, realizou um trabalho que o consagrou como o maior prefeito da história do seu município. Construiu maternidade, orfanato, escolas, as sedes da Prefeitura, da Câmara Municipal e do Fórum, um novo gerador para a usina de força e luz e outras obras importantes.
Mas, após o traumatismo a que foi submetido, diante de inquisidores despreparados e a serviço dos seus adversários políticos, adoeceu gravemente, tendo que se submeter a tratamento em centro médico mais avançado, em São Paulo, vindo a falecer, no ano de 1970.
O escritor e grande historiador Hélio Galvão, seu velho amigo, em artigo publicado neste jornal, em maio de 1971, homenageando a sua grande figura, disse entre outras coisas: “A moléstia insidiosa que se lhe instalou no organismo aproveitou aquelas noites insones, aquelas emoções nunca sentidas e desfechou a ofensiva mortal”.O escritor Manoel Onofre Junior, no seu livro, “Simplesmente Humanos”, narrando sobre a presença política de Jocelyn Villar, em Martins, disse como muita justiça: “Como poucos outros políticos ele poderia ter, como epitáfio: aqui jaz um homem de bem”.
Fonte: Tribuna do Norte
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