Instituto José Maciel

Em memória de Otacílio Alecrim - II

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Em memória de Otacílio Alecrim – II

                         Retomo o roteiro de crônica anterior, em torno da memória de Otacílio Alecrim, para uma tentativa de complementação e de fixação de certos detalhes de sua vida e de sua obra de escritor e de jurista. Esses detalhes, ao que acredito, poderão contribuir de algum modo, para lhe definir a presença e o lugar que lhe cabe nos domínios da inteligência norte-rio-grandense. São informes colhidos junto a pessoas de sua família, especialmente seu sobrinho Meneval Dantas, ou em seus próprios livros, alguns esgotados, informes bibliográficos, sobretudo. Otacílio teve a maior parte da sua existência, (coincidente com a realização da mais expressiva parte de suas atividades intelectuais), decorrida no Rio de Janeiro onde escreveu e publicou seus livros representativos, tanto de estudos literários e filosóficos como de direito público, bem como artigos em revistas e jornais. Esteve em Natal, em 1949, quando proferiu conferencias e reviu a terra e amigos. Foi a ultima vez. Talvez se haja tornado, assim, um déracine, no exato sentido barrésiano da expressão – Acentuado no que contém de nostálgico e de “temática do souvenir” (aportuguezando assim o vocábulo francês) o seu “Província Submersa”, todo voltado na direção dos espaços e dos tempos perdidos dessa amorável cidade Natal de Macaíba, para ele se tranfiguravido lentamente numa espécie de ville engloutle renaniana. A terra, as águas, as paisagens, as coisas, os costumes, os ambientes, homens de condição social diversa, fatos e aspectos do nosso Estado, principalmente nesta faixa leste, ilustram e compõem a alma e o corpo daquele livro. Títulos de capítulos, como “Almanaque de lembranças”, “Verbetes do fabulário”, “Evocação de estrelas cadentes”, “Nostalgia do infinito”, “Signo de escorpião” e “Sobrevivência de Anteu”, sobretudo este último, denunciam o homem apegado consubstancialmetne ao seu chão originário, exaltando-lhe, inclusive, valores e figuras no plano da cultura, como José Augusto, Elói de Souza, Manoel Dantas, Palmyra Wanderley, Nunes Pereira, (em que perdida tribo dos confins amazônicos andará, talvez, esse fabuloso tipo endio civil, pesquisando, observando, anotando, entre feiticeiros, morubixadas e conhantãs, imune a passagem do tempo, nonagenário? Centenário? Graças a misteriosos filtros e poções tabus, e de vez em quando publicando preciosos livros da vida selvagem?, Jorge Fernandes, Luis da Câmara Cascudo, Antonio Bento, paralelamente aos de Gilberto Freyre e Ronald de Carvalho. Proustiano confesso e irredutível, anima os cotes de sua obra de visões feéricas e picturais. Seu livro “Ensaios de literatura e filosofia”, em que estuda, por exemplo, “A Estética da Escola do Recife”, “Dom Casmurro e Malazarte”, “Fausto e Malazarte”, “Recriações da memória Proustiana”, Diálogos do mundo interior” (pensamento e Consciência, Coração e Razão, Experiência e liberdade,Subjetividades e Conhecimentos, Sensação e Idéia, Ação e Existência) abre-se com uma comovida e grata homenagem ao nosso Henrique Castriciano.
                         Otacílio Alecrim nasceu em Macaíba, como já foi dito, a 17 de novembro de 1907, na rua da Conceição, no prédio que hoje tem o número 82; e morreu no Rio, de enfarte do miocárdio, a 2 de setembro de 1968. Aos 17 anos, aqui em Natal foi oficial de gabinete do Governador José Augusto. Após um brilhante e numeroso curso na Faculdade de Direito do Recife, e já radicado no Rio, foi igualmente oficial de Gabinete do Ministério da Justiça, Agamenon Magalhães, em 1935. Procurador do IPASE, a seguir, e, diversas vezes, chefe da respectiva Procuradoria. Redator de “A República”, de Natal, do “Diário de Pernambuco”, e “A Província”, do Recife, colaborador do “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro.
                         Trabalhos literários publicados: “Tamatião”, panfleto à margem da ideologia revolucionária, Natal, tipografia Minerva, 1931; “ensaios de Literatura e Filosofia”, Rio, 1955; e “Província Submersa”, 1957. Segundo indicação no dorso dos “Ensaios” acima mencionados. Estava, em preparo, o livro “Proust, romancista do Impressionismo”, com ilustrações de Luis Jardim, a sair em edição do “Proust-Club” do Brasil.
                         Também no volume “Proustiana Brasileira” (Rio, edição da “Revista Branca”, 1950) e na própria “Revista Branca”, Rio, número em homenagem a Proust, Dezembro-Janeiro, 1948 -1949, figuram dois estudos de Otacílio Alecrim: o primeiro “Paizes de Proust” e o segundo “Sistemática da bibliografia proustiana”. Antigos publicados no “Correio da Manhã” :”Proust”, de 22-08-48, “Museu da Literatura Proustiana”, de 12-09-48 e “Introdução à bibliografia proustiana”, de 26-09-48. E no “jornal de Poetas”, Rio, 12 de junho de 1950: “Motivos de Proust”.
                         Obras de natureza jurídica: “Fundamentos da Cultura Civil” (Discurso de orador da turma de bacharéis de 1933, da Faculdade de Direito do Recife, 1934.
                         - “Fundamentos do seguro do Estado” (tese para “The Fourteenth National Conference on Social Security”, 1941, New York).
                         - “Fundamentos do Standard Jurídico” (Tese de Docência à introdução à ciência do Direito na Faculdade Nacional de Direito da universidade do Brasil. Rio, 1941).

Escrito pelo Dr. Américo de Oliveira Costa
Publicado na Tribuna do Norte

 
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