
Imortal da ANI, onde ingressou em 1949, ocupando a cadeira nº29, cujo patrono é Armando Seabra, Esmeraldo Siqueira, de acordo com as palavras de Veríssimo de Melo, sempre foi “a expressão mais alta da vida literária e científica”. O seu filho, o intelectual Juliano Siqueira, assim o descreve: “Esmeraldo escreveu seus poemas de acordo com o seu credo literário: romântico, parnasiano, simbolista, moderno. Um humanista”. Esmeraldo usava os pseudônimos: André Maroni e Pedro Malazartes. A biblioteca pública da Capitania das Artes tem o seu nome, bem como uma rua no bairro de Pitimbu, em Natal.
Esmeraldo Homem de Siqueira nasceu em Vila Nova, hoje Pedra Velha, filho do juiz Joaquim de Siqueira Cavalcanti e de D. Maria Joaquina de Siqueira Cavalcanti. Transferiu-se com seus pais para Natal em 1913, iniciando no mesmo ano seus estudos primários no Grupo Escolar Augusto Severo. Depois, no Colégio Santo Antonio e no Atheneu Norte-rio-grandense. Em 1928 matriculou-se na faculdade de medicina do Recife, onde colou grau na turma de 1933. Começou a exercer a profissão em Jardim do Seridó. De lá, nas horas vagas, escrevia e mandava para “A República” os seus “Intentos”, série de Artigos sobre literatura e filosofia.
A partir de 1936, transferiu-se para Natal e passou a lecionar na Escola Normal a disciplina História Natural. Em 1941, ingressa no quadro de professores do Atheneu Norte-rio-grandense, ensinando Língua e Literatura Francesa. Para essa cadeira, publicou Letras de França (1969, que é uma espécie de excursão didática e erudita nas obras e nas vidas dos grandes autores franceses.
Intelectual polêmico e contestador, portador de uma vasta cultura científica e humanística, colaborou assiduamente nos jornais “A República”, “Diário de Natal”, “Correio de Povo”, e “Tribuna do Norte”. Neste último, manteve uma coluna semanal sobre literatura e filosofia, entre os anos 1954 e 1955.
O texto do livro dos 400 nomes de Natal, publicado por ocasião do aniversário dos 400 anos da cidade, cita Esmeraldo Siqueira como um homem de temperamento arredio, contrário ás reverências aos poderosos e aos círculos de privilegiados, preferindo o trabalho intelectual solitário que exercia habitualmente à noite, encerrada a jornada diária pelos colégios, onde ministrava aulas. Deixou dezenas de livros editados, versando sobre temas da literatura clássica européia, sobretudo francesa, mas também sobre temas da cultura brasileira. Na poesia, deixou uma produção vasta e variada, lírica, satírica, romântica.
Em 1949 funda, com outros colegas, a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a primeira escola superior da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – onde lecionou a cadeira de Botânica Farmacêutica. Foi também um dos fundadores da Faculdade de Filosofia à qual vinculou-se depois que essa instituição acadêmica foi incorporada à Universidade Federal, via Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Em 1957, fundada a Faculdade de Filosofia de Natal, passa a lecionar Língua e Literatura Francesa. Aposenta-se em 1958 na cadeira que ocupava na Faculdade de Farmácia. Suas aulas, cultas e descontraídas, ficaram famosas por atraírem grande número de alunos, inclusive vindos de outros cursos Humanas.
AS PREDILEÇÕES LITERÁRIAS
O escritor Marcos Silva, em sua palestra, vai falar sobre a obra de Esmeraldo Siqueira e, especialmente, sobre suas predileções literárias: admirava quatro poetas potiguares: Auta de Souza (1876/1901), Ferreira Itajubá (1984/1978) e Othoniel Menezes (1895/1969). De acordo com Marcos Silva, o escritor Esmeraldo salientava as diferenças de pensamento e de sensibilidade em relação ao grupo (o casto misticismo da primeira; a posição social de Palmira e a visão de mundo daí decorrente; os limites na formação de Itajubá e Othoniel) sem perder de vista suas qualidades literárias. Esse gesto evidenciou elegância intelectual e largueza de espírito.
E o escritor admirava, no plano literário, figuras radicais do século XIX (quando o volume de detém), como Charles Baudelaire e Paul Verlaine. Mas foi igualmente um escritor que respeitava o cânone. E procurava, na modernidade, o que mereceu canonização: além desses dois, Arthur Rimbaud e, noutros escritos, o brasileiro Augusto dos Anjos. “Aqueles potiguares e esses franceses, que Esmeraldo tanto admirou, ajudam a entender sua situação na modernidade norte-rio-grandense. Por um lado, Auta, Itajubá, Palmira e Othoniel representam um cânone quase em comum com as vozes hegemônicas dessa modernidade – os mencionados Luís da Câmara Cascudo e Jorge Fernandes.
Por outro, os franceses posteriores ao Romantismo – notadamente, Rimbaud, significam uma radical separação. O Modernismo potiguar hegemônico se encaminhou para o regional e a busca do novo, em linguagem poética e ensaística, sem renunciar ao universal. Jorge e Luís são evidentes exemplos disso, bem sucedidos em termos de produção e vigência intelectual, e o último continuou a celebrar o cânone potiguar noutras obras, através de nomes como Auta de Souza e Henrique Castriciano (1874/1947), por exemplo.
A amizade dos irmãos siameses
Considerados os “irmãos siameses da literatura potiguar”, Esmeraldo Siqueira e Othoniel Menezes tinham uma amizade nutrida pelas profundas afinidades: poetas, conhecedores do idioma e da literatura franceses, humanistas, anti-cliricais e inimigos das mediocridadesda província. Eram o “desenho animado” e a “fauna contemporânea”. Esmeraldo a vida toda ateu, Othoniel, espiritualista.
Por insistência de Esmeraldo, Othoniel foi parar na Academia, mas nunca tomou posse. Ele é o prefaciador do livro de Othoniel “canção da montanha” 1955. Laélio Ferreira de Melo, filho de Othoniel Menezes, disse que a amizade dos dois foi fortalecida em 1935, quando seu pai foi preso no Recife.
O professor Cláudio Galvão, assim descreve a prisão de Othoniel em seu livro “Príncipe e Plebeu”: “Após uma noite de agonia na marmorra da Casa de Detenção, logo pela manhã foi Othoniel levado, devidamente escoltado, para a estação de trens, de onde partiu para Natal. A rapidez da transferência deveu-se à ação imediata de Esmeraldo que, acionando o irmão, Oscar Homem de Siqueira, providenciou sua imediata remoção para Natal. À tardinha chegava o trem à estação da Praça Augusto Severo. Desembarcou o poeta na companhia de quatro soldados da Polícia Militar de Pernambuco, fortemente armados.
Numa atitude de coragem e protesto, Esmeraldo Siqueira abraçou o amigo e o acompanhou à prisão, a 1ª Delegacia da Ribeira, onde aguardou julgamento. Othoniel não foi mandado para o presídio da Ilha Grande por conta da amizade e interferência de Esmeraldo Siqueira, que era irmão de Oscar Siqueira, chefe de Polícia. Relatando o fato a seus familiares, Esmeraldo Siqueira, muito tempo depois, ainda demonstrava sua revolta: “Ele, como um bandido, conduzido em meio à tropa... Cruzei os fuzis e o abracei!”
OBRAS:
· CAMINHOS SONOROS [Versos] – 1941
· ROTEIRO DE UMA VIDA – 1968
· MÚSICA NO DESERTO – 1968
· FAUNA CONTEPORÂNEA [Sátira] – 1968
· NOVOS POEMAS [Versos]
· DEPARTAMENTO ESTADUAL DE IMPRENSA [1950]
· TAINE E RENON [Ensaios] 1968
· SUGESTÕES DA VIDA E DOS LIVROS [Crítica literária] 1973
· CAMINHOS SONOROS [Poesias] – 1941
· POEMAS DO BEM E DO MAL [Poesia] 1984
· PRETÉRITAS [Poemas] 1984
· JORGE FERNANDES DESCONHECIDO IN “REVISTA DA ANI” – 1979/80
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POR: Francisco Francerle [Equipe Diário de Natal]
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