O homenageado de hoje é um ícone da medicina no Rio Grande do Norte, JOSÉ JORGE MACIEL, que nasceu na letrada e culta cidade de Macaíba, chão palmilhado por poetas e escritores, por inventores e estadistas, no dia oito de outubro de 1914, da união legítima de Olímpio Jorge Maciel e Ellen Mesquita Maciel, pertencentes a tradicionais famílias norte-rio-grandenses.
De seu pai Olímpio, José Jorge Maciel herdou a tenacidade de caráter e a firmeza das convicções, que o distinguiram tanto na vida profissional, quanto na familiar e social; à sua mãe Ellen, deveu a atenção aos simples e a solidariedade ao sofrimento e às carências do próximo. Essas qualidades lhe estiveram presentes desde a tenra infância, quando ingressou no Grupo Escolar Auta de Souza, em Macaíba, onde fez as primeiras letras, e só fizeram se fortalecer com o tempo. Sua passagem pelo renomado Colégio Diocesano, de orientação católica, em Mossoró, lhe abriu perspectivas de um futuro rico em trabalho e em realizações na área mais sensível da vida: a medicina. Foi aluno do Colégio Pedro II e do Atheneu Norte-riograndense.
Encorajado por esse ideal, logo que concluiu os estudos secundários no Colégio Diocesano de Mossoró José Jorge Maciel seguiu para a cidade de Salvador, na Bahia, e lá prestou, com sucesso, exame vestibular para a Faculdade de Medicina. Foram seus colegas de turma nomes que mais tarde se destacaram na medicina e na política, como Tarcísio Maia (futuro governador do RN), Francisco Wanderley, Inocêncio Oliveira, Newton Câmara, Astério Monte, Gilberto Gil Moreira (pai do cantor Gilberto Gil), entre outros.
Nesse curso, fez opção pela radiologia, ramo ascendente da ciência à época, especialmente no Rio Grande do Norte, estado para o qual se dirigiam as atenções e os projetos profissionais do jovem acadêmico José Maciel.
No campo da radiologia, José Maciel fez uma carreira brilhante, pautada por inovações e realizações ousadas, dentre as quais se sobressai a criação do Instituto de Radiologia de Natal, do qual foi um dos fundadores, e que hoje é uma referência em radiologia em todo o Nordeste do país. Sua atuação destacada como radiologista lhe abriu as portas do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Associação Médica Brasileira, ambas em 5 de dezembro de 1970, dos quais foi membro titular. Foi ainda Diretor do Sanatório Getúlio Vargas de Natal (RN) e Chefe do setor de Radiologia do INPS e, culminando sua carreira médica, foi Secretário de Saúde durante o governo Dinarte Mariz (1956-60). Fundou a primeira Unidade de Saúde (sociedade médico-cirúrgica de Macaíba), situada à Rua Tiradentes, cujo destaque assistencial à pobreza vai para sua esposa Zuleide Meira Maciel e irmã Maria Maciel. Mas a maior prova de reconhecimento que os seus conterrâneos conferiram a José Jorge Maciel foi a outorga da Medalha Auta de Souza, pela Câmara Municipal de Macaíba, pelos relevantes serviços prestados ao município, no ano de 1976, quando se comemorou o centenário da grande poetisa de “Horto”. Em 28 de outubro de 1941, José Maciel foi nomeado, pelo governador Dix-Sept Rosado, para as funções de Médico Clínico e, em 31 de janeiro de 1956, nomeado pelo governador Dinarte Mariz para o cargo de médico tísio-radiologista.
Paralelamente à medicina José Jorge Maciel desenvolveu interesses pela política e pela pecuária. Em ambas recolheu sucessos. Na primeira, ao se eleger prefeito de Macaíba, sua terra natal, no período de 1953 a 1958. Entre suas realizações, merecem especial menção a fundação do Jockey Club RN, o Pâmpano Esporte Clube e do Kennel Club RN. Sobre sua atuação no Pâmpano Esporte Clube, o escritor Luís G. M. Bezerra fez a seguinte observação: “Desde os primeiros momentos de fundação do Pâmpano, José Maciel empenhou-se para o seu êxito, com vistas ao desenvolvimento do novo polo desportivo em Natal, prestigiando com sua presença e levando amigos para incentivar as primeiras competições que se realizavam, na Pedra da Bicuda, na avenida Circular, tornando muitos deles adeptos na prática do salutar esporte e associando-os ao clube”.
Foi dado seu nome ao estádio de futebol de Macaíba em reconhecimento ao seu apoio aos esportes em geral e, em particular, à construção dessa praça esportiva. Em Natal, foi homenageado pelo Governador Garibaldi Filho e pelo Secretário da Saúde Ivis Bezerra. Como pecuarista, se destacou como um criador seletivo e apaixonado por gado de raça e, mais do que isso, um extraordinário conhecedor e especialista em animais leiteiros. Isso tudo, sem qualquer alarde. Pelo contrário, preferia ocultar sua experiência e conhecimento sob o disfarce de um discreto observador apenas interessado e “amador” na área.
José Jorge Maciel se casou com Zuleide Meira Maciel, companheira e mãe de seus filhos Olímpio, Nadja, Cleide e José. A prole cresceu e hoje conta oito netos e nove bisnetos. Junto a Zuleide ele compartilhou, sempre de ânimo inabalável, momentos de alegria e de tristeza, de êxito e de frustração, de plenitude existencial e de dolorosa incerteza que o destino reserva a todos os homens. Foram dois seres que se amaram com um amor leal e um companheirismo sem nódoas, duradouro e constante.
Ao falecer em 15 de dezembro de 1995, José Jorge Maciel deixou como marca e símbolo de sua vida, para os seus familiares, amigos e todos aqueles que privaram do seu convívio solidário e de seus préstimos profissionais, uma permanente, lúcida e corajosa afirmação de dignidade, que constituiu a tônica e a diretriz do seu modo de seu modo de agir, em todas as circunstâncias por que passou em sua trajetória existencial.
Por essa razão, a notícia de sua morte repercutiu fortemente entre seus familiares e amigos, suscitando manifestações da mais profunda comoção. Seu filho Olímpio, juntamente com sua esposa Neide e os netos Maciel Neto, Felipe e Ingrid, testemunharam assim a dor da perda: “Nosso amor filial é tão grande quanto nossa profunda admiração às qualidades que sempre o fizeram, no julgamento de todos que o conheceram, um ser humano digno, generoso, justo e solidário”.
Nélio (in memoriam), Nadja, Adriana e Nélio Jr. – respectivamente, genro, filha e netos –, por sua vez, se pronunciaram assim: “A saudade enche o nosso coração de sofrimento, mas nos conforta o seu exemplo de chefe de família, de profissional, de homem público, de cidadão coerente com os seus princípios e fiel ao seu exemplo de vida”.
Manoel, Cleide e filho (genro, filha e neto), expressaram: “Porque acreditamos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida e quem nele crê não morrerá, ensina a Bíblia, é que sabemos que você continua vivo, pelo mistério da fé e pela onipotência da infinita bondade de Deus”.
José, Kate e filhas (filho, nora e netas), declararam: “Você, sobretudo um raríssimo amigo, desses que só existe um, esteve sempre presente em nossas vidas nos momentos mais felizes e mais difíceis, como o eterno paizão da nossa infância, não só querido como infalível em sua bondade e na firmeza de seu caráter”.
Na expressão de seus amigos Bulhões e Geruza, José Maciel “foi, mais que um irmão, um amigo”. Nas palavras de seu primo Ivan Maciel, com a partida de José Maciel para o plano superior, “morreu também uma parte de minha infância, na casa do meu avô e uma parte de minha juventude, como seu Chefe de Gabinete na Secretaria de Saúde, meu primeiro emprego público, estudante de Direito”. E acrescenta: “Eu admirava sua têmpera e intransigente autenticidade. Na aparente aspereza escondia o sal e o sol da ternura humana”.
O escritor Valério Mesquita prefere ressaltar um setor específico que foi grandemente beneficiado com o trabalho de José Maciel. Disse Valério num artigo publicado na Tribuna do Norte: “Foi na área da educação pública que José Maciel realizou a maior tarefa, incrementando nos idos de 1956, o ensino comercial na década, construindo a Escola Comercial, cujos fundamentos permanecem até hoje, através do Colégio Comercial Dr. Severiano”. Prossegue Valério: “À época, posso me lembrar, na área do ensino, Maciel contou com o apoio de um verdadeiro time de bons professores que muito o ajudou na planificação dos projetos de educação: Aldo Tinoco, Aguinaldo Ferreira da Silva, Rivaldo D’Oliveira, Geraldo Pinheiro, Manoel Firmino de Medeiros, Francisco Véscio de Lima, João Batista Pessoa, entre outros”.
“[...] Gostava daqueles encontros, pois a personalidade aberta e corajosa de seu pai sempre trazia um final feliz [...] Quando via que não tinha razão, a rocha se transformava em criança a distribuir sorrisos. Esta é a imagem que tenho de seu pai [...] Orgulhe-se do seu pai, Olímpio”. Trecho de carta enviada por Graco Magalhães a Olímpio Maciel, com data de 12 de janeiro de 1996.
Na esquina da rua Nilo Peçanha com a Potengi, onde hoje é uma clínica, morava o doutor José Maciel. Um médico educado, com sua sisudez por trás dos óculos, e de onde fugia uma história discreta de que na juventude sonhara com o socialismo. Vicente Serejo – Uma praça encantada, 25 de fevereiro 2012.
Mas quem se expressou de forma mais abrangente acerca da vida exemplar de José Jorge Maciel foi seu amigo e colega Paulo Bezerra, fazendo apor no Instituto de Radiologia de Natal, de tão elevado significado profissional para a compreensão da história do médico macaibense, uma placa onde está inscrita a mensagem em que tenta definir a dimensão humana de José Jorge: “Este chão, onde nós estamos a pisar, tem muito do que nós somos mas também tem uma parcela, que não se mede e nem se pesa, do que foi o nosso velho amigo e companheiro Zé Maciel. No espírito dele, justo por natureza, estavam uma bondade sem limites, a crença no saber e nos avanços tecnológicos e os mais rígidos parâmetros de honestidade e de lisura”.
“Esta obra de 30 e tantos anos, feita por tantas mãos, pelas nossas mãos e pelas mãos dele, veio para ficar”.
“Aqui então, nesta homenagem singela, prestada à sua memória, dando ao nosso Auditório o seu nome, reafirmamos com toda convicção, que nós iremos continuar na busca incessante de qualificar cada vez mais a nossa atividade profissional, respeitando todos os artigos da ética médica e todas as regras da decência”. A placa, datada de 20.9.99, é assinada: “Paulo Bezerra”.
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