Do triste e vergonhoso capÃtulo da História do Brasil, escrito com sangue dos torturados pelos agentes do regime militar, uma estória de amor, a ditadura não conseguiu apagar. Personagem viva dessa página de ternura, Odete Roselli Maranhão, hoje [07.11.1993] com mais de 70 anos de idade, abre o seu coração e revela os anos de convivência com o marido, o lÃder comunista LuÃz Inácio Maranhão Filho, morto em 1974, numa casa de torturas mantida pelo Exército, em Itapevi, no municÃpio da grande São Paulo, sem que o óbito nunca fosse comunicado à famÃlia. Ela relata a sua grande agonia durante a peregrinação feita por BrasÃlia, Rio de Janeiro e São Paulo, circulando nas ante-salas dos generais, nos gabinetes dos delegados e dos polÃticos, nas prisões e nos hospÃcios, na busca desesperada por uma notÃcia do companheiro.
Somente em novembro do ano passado, com a publicação da entrevista concedida à revista Veja por Marival Chaves, ex-sargento do DOI-CODI, Odete teve a confirmação do seu verdadeiro estado civil. Luiz tinha sido torturado e morto com uma injeção para matar cavalos e o seu corpo atirado de uma das pontes da estrada SP 255, nas imediações de Avaré, à 250 km de São Paulo, onde segundo Marival, existe um cemitério aquático.
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Sentindo-se doente, como o corpo trêmulo e o olhar distante, apesar de se dizer esquecida, Odete relembra, muitas vezes com detalhes, a vida com o marido. Foram apenas nove anos de convivência em Natal. Eles moravam no EdifÃcio São Miguel, talvez o primeiro prédio de apartamentos da cidade. Situado na Avenida Rio Branco, no edifÃcio, também funcionavam o consultório odontológico de Odete e o consultório médico da sua irmã Aliete Roselli, falecida há seis anos.
Depois dos nove primeiros anos de casamento, sempre intercalados de sobressaltos, porque o Partido Comunista estava na ilegalidade, seguiram-se dez anos de encontros clandestinos. Como Luiz, após ser solto em 1964, teve que deixar Natal, Odete, periodicamente, viajava para o Rio de Janeiro ou para São Paulo para visitar o marido, que sempre a esperava com ansiedade. Um dia, ela retornou ao Rio, levando uma pequena maleta com roupas novas para o bem amado, um homem sem vaidade, conforme afirma, mas nunca mais o encontrou. Ao contrário da maioria dos contos romanceados, a história de Odete e Luiz não teve um final feliz.
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