Instituto José Maciel

A lanterna de Diogenes da Cunha Lima

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Poeta, escritor e advogado, Diógenes da Cunha Lima realizou-se nas variantes de sua vocação, tornando-se um intelectual respeitado. No entanto, é a sua simples figura humana que me desperta maior admiração. Homem cordial, não apenas afável, acolhedor, mas, principalmente cordial por artes do seu imenso coração novacruzense.

Câmara Cascudo, seu mestre, com quem conviveu de perto, definiu-o numa dedicatória, em livro de sua autoria: “Ao meu querido Diógenes, cuja lâmpada é o coração”. Assim se expressando, Cascudo faz alusão ao filósofo grego Diógenes, discípulo de Aristóteles, que, certa vez, saiu às ruas de Atenas com uma lâmpada em punho, à procura de um homem de bem.

Nosso Diógenes, como está visto, também busca o próximo, ou seja, o concidadão, em sua inteireza, mas, ao invés do seu xará grego, que usou, ironicamente, uma lanterna, Diógenes serve-se do coração…

Nessa permanente cordialidade (do latim – cor, cordis: coração) ele pode até mesmo ir de encontro à razão, isto é, afrontar o que se convenciona ter como certo e justo. Quando, por exemplo, quer fazer algo a favor de uma pessoa amiga, desconhece barreiras, vai em frente, decidido, e só descansa após atingir o seu objetivo. Neste sentido torna-se voluntarioso.

Conheço-o desde os tempos da velha Faculdade de Direito, na Ribeira, onde, por volta de meados da década de 60, eu estudava, e ele, ainda muito jovem, atuava como professor ou monitor – não me lembro bem – no Departamento de Prática Jurídica.

Tenho acompanhando, atentamente, a sua trajetória na Literatura e na Vida Literária do nosso Estado.

 

DIÓGENES NAS LETRAS

Em “Salvados – Livros e Autores Norte-rio-grandenses” (3a. ed., 2014), procurei situar o poeta no contexto das nossas letras, alinhando-o junto aos integrantes da Geração 61 – Luís Carlos Guimarães, Dorian Gray Caldas, Myriam Coeli, Sanderson Negreiros, Deífilo Gurgel, Augusto Severo Neto -, embora ele tenha estreado, em livro, um pouco mais tarde.

Toda a sua poesia, como já tive oportunidade de dizer, revela uma busca incessante de comunicação e síntese, numa cosmovisão humanística. Expressar o máximo de significados com o mínimo de palavras, este é o objetivo quase sempre alcançado. Mas, com isto – note-se bem – o poeta não assume o antiverso; seu espírito moderado, não de todo desprendido da tradição literária, rejeita experimentalismos mais ousados.

Seus versos transpiram lirismo, humor e certa dose de erotismo, deixando entrever, por outro lado, uma sólida formação cristã. Sem dúvidas, Diógenes da Cunha Lima, é poeta do primeiro time. E não é só de escrever, mas, também, vivencia a poesia em atitudes e gestos marcantes. Há algum tempo, comprou um baobá – sim, nada menos do que um baobá, aliás, o único existente em Natal – para conservá-lo, grandioso e belo, numa rua do bairro de Lagoa Seca.

O escritor e professor Thiago Gonzaga estudou relevantes aspectos da poética diogeniana, em sua dissertação de mestrado, na UFRN, a qual foi publicada em livro sob o título “Tempo, Memória & Poesia – Um Estudo das Obras Corpo Breve e Os Pássaros da Memória de Diógenes da Cunha Lima”. Esse trabalho veio enriquecer, e muito, a bibliografia sobre o poeta.

Além do culto às musas, Diógenes da Cunha Lima é cronista, articulista, colaborador de vários jornais e revistas culturais e ensaísta, autor de esboços biográficos sobre figuras emblemáticas da nossa História Contemporânea – Câmara Cascudo, Djalma Marinho, Onofre Lopes, Dinarte Mariz, D. Nivaldo Monte, etc. Cascudo, mestre e amigo, que se tornou uma espécie de pai intelectual para o escritor, surge em retrato afetivo, comovedor.

DIÓGENES PRESIDENTE DA ANRL

Não poderia encerrar estas palavras sobre o intelectual sem antes ressaltar a presença dele na vida literária potiguar. Basta dizer que, além de atuar como conferencista e participar do Conselho Estadual de Cultura e de outras entidades culturais, Diógenes é presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras há mais de 30 anos. E, ao que tudo indica, permanecerá por muito tempo à frente da Instituição, pois todos os membros da ANRL concordam que ele é a pessoa certa no lugar certo.

A propósito de Academia, dizem por aí que ele a tem na mão, que é o manda-chuva, etc, etc. Tudo mentira. Eu, que sou acadêmico e ocupo a cadeira nº 5 desde 1992, dou o meu testemunho:

“Diógenes nunca me pediu o voto para candidato a acadêmico de sua preferência. É democrata, sempre, em tudo. Particularmente, ele acha que a ANRL deve acolher, em seu quadro de sócios efetivos, não apenas escritores, mas também figuras notáveis da inteligência. Era este, aliás, o entendimento de Joaquim Nabuco em relação à Academia Brasileira. Eu, modestamente, discordo; prefiro ficar com Machado de Assis, para quem a Academia é a casa de escritores, e só excepcionalmente, de elementos alheios à literatura”.

AS VÁRIAS IDADES

Há muito o que contar a respeito dessa figura humana fora de série, que é Diógenes da Cunha Lima.

Costumo dizer que ele é um ser atemporal. Por que? Vejamos. Ele teria vindo ao mundo em 20 de julho de 1937, mas, no Registro Civil, consta 26 do mesmo mês como sendo a data do seu nascimento. Recentemente, porém, descobriu-se que, de acordo com o batistério, ele nasceu num dia do mês de setembro. Só o lugar de nascença é inconteste: Nova Cruz. Disto aliás, se ufana.

Qual seria sua idade? Há algum tempo comemorou 80 anos, mas, quem o vê, não lhe dá mais de sessenta. E nunca fez cirurgia plástica, que eu saiba. Na verdade, esse novacruzense cidadão do mundo, tem várias idades. Como assim?… há de indagar o caro leitor. Pois bem, trata-se de um fenômeno extraordinário. Numa determinada hora, ele tem cinquenta e cinco anos, noutra já chega aos sessenta. Ontem, eu o ví, alegre, contente, estava com quarenta anos!

Lê bastante, sobretudo poesia, sua praia; é bom de garfo e de copo, apreciando um bom vinho, e só não gosta de cebola. Caminha todo dia, faz ginástica (musculação) e nunca falta ao expediente em seu escritório de advocacia, exceto três meses por ano, quando viaja pelo exterior.

Principalmente, cultiva, com esmero, a arte de fazer amigos. Tanto assim, que se Dale Carnegie, aquele famoso autor do livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, vivo fosse, com certeza, viria pedir-lhe conselhos…

“Leva todo mundo na lábia…” Quem disse isto foi a sua primeira mulher, Moema Tinoco, mulher invulgar, de saudosa memória, autora do livro “Ensina-me a Viver”. Ela também disse: “Ele é grande no coração e nas atitudes”. Assino embaixo.

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