Monsenhor Jose Paulino de Andrade

Imprimir

Foi na bela cidade de São José do Mipibú, estado do Rio Grande do Norte em um sábado dia consagrado à Nossa Senhora, ao romper da aurora, que nasceu José Paulino de Andrade, aos 16 de março (mês consagrado a São José) de 1861. Filho legítimo do Capitão José Paulino de Andrade e de D. Rita Bernardina da Silva. Com 29 dias de idade foi batizado na Matriz da mesma cidade, conforme veremos pela certidão de batismo aqui transcrita.

Arquidiocese de Natal.
Rio Grande do Norte.
Paróquia de Santana e S. Joaquim de São José do Mipibú.
Certidão de Batismo.

Certifico, que, no Livro de Registro de batizados nº 6. fls. 98 sob nº 82 do arquivo desta Paróquia, consta que aos 14 dias do mês de Abril no ano de 1861, na Matriz, o Revmo. Cônego Gregório Ferreira Lustosa batizou solenemente a José nascido aos 16 de março de 1861 filho legítimo de José Paulino de Andrade e de Rita Bernardina da Silva, sendo padrinhos: Antônio Sebastião da Silva Leitão e Antônia Rita dos Santos Gesteira.

 

Ita ia Fide et Verbo Parochi
São José do Mipibú, 2 de Fevereiro de 1960.
Cônego Antônio Ramos - Pároco.


Criança de olhos vivos, rosto largo, nariz normal, boca pequena labioa voluntariosos, músculos fortes, logo nos primeiros anos de sua existência, demonstra uma precocidade fora do comum. Aos 5 anos de idade apenas, já fazia sentir, aos pais e demais pessoas, que o seu futuro não seria vulgar. Nessa idade deu prova de ser um menino observador. Aos brinquedos e companhia com os de sua idade, preferia estar ao lado dos pais e ouvir-lhes as conversas em assuntos sérios e graves. Sua boa e piedosa mãe, de bela formação religiosa, moral e cívica, observando que o seu pequeno Zézito era demasiado esperto, procurou logo infundir-lhe n'alma e no coração, o espírito de fé e temor de Deus.

A primeira impressão, que se lhe gravou profundamente e para nunca mais o deixar, foi o tríplice sentimento de: Religião, luta e patriotismo. E esse estado emotivo o acompanhou até ao seu último dia de vida. Cresceu, viveu e morreu, religioso, lutador e patriota. O amor e o temor de Deus; o interesse pelas coisas da Igreja, o respeito aos objetos sagrados; a veneração aos sacerdotes e suas indumentárias e o espírito de oração foram a grandiosa herança de sua extremosa mãe.

Aos 9 anos de idade, sua alma estava cheia da dolorosa impressão de guerra, por causa da Guerra do Paraguai. Dai o patriotismo. Aos 17 anos, seu coração transbordava de dor por ouvir, ler e observar o triste desenrolar dos fatos da “Questão Religiosa” a grande punhalada no coração do Brasil católico! Daí, o desejo de se entregar a Deus (ser padre) para lutar a favor da igreja e defender os direitos de Deus. D. Vital e D. Macedo não saiam de sua mente.

Nos primeiros anos da juventude de José Paulino, seus pais mudaram-se, de São José do Mipibú para a Capital. Ali, dedicou-se ao estudo decididamente. Estudava para saber e não somente para passar nos exames. Terminado o curso secundário, poz-se a meditar...

Que carreira seguiria, era a pergunta que fazia a si próprio. Seguiu para o Rio de Janeiro e, lá, matriculou-se na academia de medicina. O jovem acadêmico, em todos os seus atos e relações sociais, revelava ser homem talhado para grandes coisas na vida.

Como não tinha tendência para passar a vida matando o tempo; como queria aproveitara mocidade para algo ser e fazer na vida, para si e para o seu próximo, ao povo de sua terra brasílica, dedicou-se ao estudo da medicina seriamente e, nas horas de lazer, estudava as questões sociais, ao mesmo tempo que observava todo o ambiente do Rio de Janeiro.

Como acadêmico, era querido pelos seus mestres; respeitado pelos seus colegas; admirado por todos os que dele se acercavam, prendeu logo a atenção de todos. Moço robusto e simpático, inteligente e criterioso, era um tanto atraente. Entretanto jamais se deixou levar por sentimentalismo e impressões dos sentidos. Na flor de seus 19 anos de idade, já pensava como varão provecto. Não gostava das más leituras; dos bailes e demais folguedos inúteis, passatempos perigosos e das companhias pouco recomendáveis. Dizia e repetia sempre: «Procuro e procurarei sempre, em toda a minha vida, aproximar-me dos bons, dos melhores que eu e; daqueles que têm sabedoria e prudência.

“Vive em amizade com muitos, mas seja teu conselheiro um entre mil”. “Quem encontrou um amigo fiel encontrou um tesouro”. “O amigo fiel é um bálsamo de vida e de imortalidade e os que temem o Senhor acharão um tal amigo”. O ilustre e piedoso Padre José Pereira da Silva Barros, paulista de Taubaté, foi ordenado sacerdote, na cidade sul-mineira de Alienas, pelo Exmo. e Revmo. Sr. D. António Joaquim de Mello Bispo Diocesano de São Paulo, por ocasião de uma visita pastoral em 1857. Voltando de Minas, foi nomeado professor no Seminário de São Paulo. Mais tarde, vigário de sua terra natal. Foi deputado provincial em duas legislaturas.

O acadêmico de medicina — José Paulino de Andrade que gostava de oratória e, toda vez que lhe era possível, procurava ouvir os bons oradores, um dia, sabendo, através da imprensa, que um ilustre sacerdote ia fazer um discurso de grande responsabilidade, foi ouvi-lo. Viu e ouviu.

Gostou do substancioso e formoso discurso, e mais ainda do orador. Voltou, à sua republica, cativo e pensativo. Guiado, certamente, pela Divina Providência, o jovem estudante ligou-se, por amizade intensa, ao virtuoso e sábio ministro do altar.

Quis conversar com o padre e abrir-lhe o coração. E, nas repetidas entrevistas e conferências, por vezes prolongadas, nasceu um amor recíproco entre os dois Josés. Padre José Pereira e o acadêmico José Paulino. O bom padre, por força de circunstâncias, tornou-se como um diretor espiritual daquele distinto moço que aspirava algo superior na vida. Dessa amizade e convivência despertou-se, na alma do jovem nortista, o sinal de uma vocação ao estado eclesiástico. Seu amor e temor de Deus intensificaram-se consideravelmente. Se já era um tanto retraído das coisas do mundo, mais contraído ficou. Como já tinha o espírito de oração, a ascensão não lhe foi difícil.

A 7 de Janeiro de 1881, o Padre José Pereira da Silva Barres foi eleito Bispo de Olinda! José Paulino de Andrade, vendo o seu grande amigo elevado à plenitude do sacerdócio, sentiu, no mais profundo de seu afetuoso coração, o inevitável agridoce da alegria e dor! Alegria, por ver a merecida, ascensão do sacerdote ilustre e seu grande amigo, e ao mesmo tempo, dor da próxima futura separação.

Entre sorrisos de contentamento imenso e lagrimas de saudades antecipadas, dirige-se ao seu fiel confidente e o abraça respeitosamente e afetuosamente.

Também o Bispo eleito, cujo coração era todo bondade, comove-se! Conservam-se num paternal e filial amplexo por alguns segundos. E, como “uterque utrique est cordi”, emocionados entreolham-se, calam-se e se conservam como duas estátuas! Entrementes o moço quebra o silêncio e diz:

—Então V. Excia. foi eleito Bispo de Olinda, para substituir a D. Vital? Esta efeméride grata e dolorosa está me revolucionando a alma, sr. Bispo Desde minha meninice estas palavras: Brasil e Guerra do Paraguai; perseguição religiosa; D. Macedo Costa, D. Vital e Olinda estremecem todo o meu ser ! —V. Excia. vai para Olinda e eu fico aqui...

—Mas você poderá não ficar!
—Como não ficarei?
—Você gostaria de ir comigo para Olinda?
—Fazer o que em Olinda?
—Se quiser ir, vamos e deixemos tudo nas mãos de Deus.
—Vou pensar e amanhã darei respostas a V. Excia.

Alguns dias passados, aproxima-se de S. Excia. Revma. o futuro atleta da Divina Grei e assim se expressa:

—Excia. estou disposto a seguir-lhe o quanto antes.
—Pois, então, estamos combinados, disse D. José ao acadêmico José.
— Se V, pensa assim, é sinal que Deus o quer.

—Sr. Bispo, deixarei tudo... Vou sair da Academia e, se Deus quiser, ingressarei nas fileiras de Nosso Senhor Jesus Cristo; serei um fiel filho e soldado de Maria; quero ser útil ao meu próximo, como V. Excia. o é; se for mesmo sacerdote, um dia, ei de fazer tudo pela maior gloria de Deus, grandeza da Santa Igreja e da Pátria ; honra do clero e o bem estar dos homens. em ordem à salvação eterna. Tendo ouvido isto, responde o Prelado:

—Pois bem, meu filho, vou também pedir a Deus bênçãos sobre os seus bons propósitos. Pôde contar comigo. A 28 de Agosto de 1881, D. José Pereira da Silva Barros foi sagrado Bispo na Matriz de Taubaté — sua antiga paróquia e sua terra natal, pelo Bispo de São Paulo, D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho com assistência dos Srs. Bispos D. Pedro Maria de Lacerda do Rio de Janeiro e D. António Corrêa de Sá e Benevides — de Mariana. Tendo tomado posse nesse mesmo ano de 1881, ali permaneceu até 1891 data em que foi transferido para o Rio.

Logo depois da posse do Prelado substituto de D. Vital, em Olinda o acadêmico José Paulino de Andrade despede-se da Cidade Maravilhosa, de seus mestres, seus amigos e seus colegas, e parte para Olinda. Ao lado e à sombra de seu amigo e pai espiritual, traça outra diretriz de sua vida. Matriculou-se no celebre e tradicional Seminário-ninho de grandes sábios e virtuosos membros da Santa Igreja.

Moço culto — já um tanto treinado na pena, como jornalista, e na tribuna, como orador dedicou-se de corpo e alma aos estudos eclesiásticos. Pela cultura que tinha, o Latim não lhe foi difícil. Logo, nos primeiros anos, conquistou a admiração e simpatia de seus novos mestres e colegas. De procedimento exemplar, dedicação e proveito nos estudos, pontualidade nos horários e regulamento de casa; inteligência e boas maneiras, recebia constantemente, os maiores elogios de seus superiores e colegas. “Pela sua passagem, tão rápida quão luminosa, pelo Seminário de Olinda, ali deixou um nome ilibado”. “Das mãos do Exmo. Sr. Bispo Diocesano—D. José Pereira de Barros recebeu todas as ordens menores e maiores até o presbiterado que teve lugar em Março de 1886”.

Na flor de seus 25 anos de idade, alma sedenta de trabalho e luta, coração palpitante de amor a Deus, à Igreja e à Pátria, logo de início deu prova de sua capacidade. "Após sua ordenação, foi nomeado coadjutor de uma das freguesias dos Bairros de Recife, contando dessa data seu conceito de consumado tribuno sagrado”.

Em pouco tempo de trabalho, naquela paróquia, o jovem, piedoso e ardoroso sacerdote tornou-se querido, acatado e respeitado por todos. Entretanto o campo já lhe parecia pequeno. Era ele grande demais, para ficar ali.

“Pêlos anos de 1888, foi nomeado Vigário da freguesia de Macahyba, e, em seguida colado na mesma, depois de brilhante concurso, realizado em Recite, então sede do Bispado, em presença de competentes examinadores sinodais”.

Nessa paróquia, deu expansão ao seu ardor apostólico.

Paternal e prudente no confessionário; de atitude máscula, busto expressivo e olhar penetrante, do púlpito, arrebatava o auditório e o transportava às sublimes regiões dos mais elevados sentimentos de religiosidade. Na imprensa — revista e jornais de grande circulação — e em toda parte, revelou-se o lídimo evangelizador e o polemista convicto, invicto e convincente. Não só no campo doutrinário, mas também nos empreendimentos de ordem material, nas suas realizações eram provas cabais de que sua capacidade era indiscutível.

Haja vista os grandes e notáveis reparos, porque passou a Matriz, durante o seu paroquiato. Angariando donativos, entre os bons paroquianos, que muito o estimavam, adquiriu ricas alfaias e demais objetos necessários para o culto católico.

Com paternal corinho e caridade angélica, cuidava dos doentes e dos pobres. Era de temperamento fogoso, porém sempre caridoso. No mesmo instante, em que mostrava o caminho reto a um petulante, com atenção e amabilidade ouvia e acolhia as lamúrias de um necessitado humilde. Franco leal decisivo e incisivo, quando pretendia resolver uma questão, ninguém o cercava. Aluava na paróquia e fora dela. Como já foi dito, no principio deste trabalho, dominava no seu espírito o tríplice pensamento de religião, pátria e beneficio ao próximo. A glória da Deus. a honra da Santa Igreja e da Pátria, o bem da coletividade eram a motriz de suas ações.

Desprendido e pobre, como sempre o foi, até o fim da sua vida, quando estava em jogo o bem comum, não poupava esforço. Enfrentava todos os obstáculos que se lhe deparassem e não cedia uma só polegada diante das peripécias

A 17 de Agosto de 1890, houve, na católica, pacata e heróica cidade de São José do Mipibú, uma espécie de levante popular.

Certamente, o que ali sucedeu é o que, comumente, acontece em diversas partes do mundo. Os agentes do mal, os arautos do erro e da mentira querendo suplantar aos que pugnam pela verdade e o bem comum. Mas, como é própria do caráter brasileiro, principalmente do nortista, a nossa gente não se dobra. Isto está sobejamente provado, pêlos fatos históricos de nossa Pátria.

O brasileiro, de modo geral, é tolerante, calado e reservado. Suporta ouve e observa, Mas, depois que se dispõe e põe-se no campo de luta, combate até o fim.

Assim é que, no referido dia 17 de Agosto de 1890, em São José do Mipibú, “no meio de enormes e estrondosas manifestações populares, foi levantada a gloriosa bandeira, o estandarte da Cruz e da Liberdade, a cuja sombra se abrigam, hoje, os homens de boa fé, os corações bem formados e, verdadeiramente, patriotas”.

O artigo em que nos aveberamos, não diz o que foi que aconteceu.

Mas, dentro de uma boa lógica, conjecturar podemos e sem medo de errar, que outra coisa não foi, senão terríveis invectivas assacadas contra a Igreja, contra os princípios de um são patriotismo e contra o bem comum.

Evidentemente, ninguém se levanta contra o quê não existe. “Et tu insidiáberis calcáneo eius”... “Ipsa conteret caput tuum”.  Homens e moços ; senhoras e senhoritas e até jovens estudantes levantaram-se todos, cheios de brilho e brio, para rechaçar os corifeus da desharmonia, por diluir o bem estar da ordeira população de Mipibú.

O ainda jovem sacerdote Padre José Paulino — num daqueles seus arroubos de intrépido soldado da Cruz; armado pelo gladio da Fé, saturado de coragem cívica, robustecido de amor à verdade e à Pátria, tendo na cabeça, o broquel da cultura, atira-se contra os broquemos. E ninguém o impede. Numa tribuna improvisada, assesta a sua metralhadora invencível! Atira, para o ar, o seu verbo quente e contundente! De olhos brilhantes e marejantes, fitando o seu convulsivo auditório, atira suas setas sibilantes e não erra o alvo! A onda do povo se avoluma e move-se!

Ao seu lado, agrupam-se os de sua fé, os de sua têmpera e os de suas qualidades morais, e cívicas.

A luta recrudesceu! Nimbou-se o céu de São José do Mipibú! O seu filho, amante do bem dos seus concidadãos, fiel defensor dos direitos do povo, derrubou de um só golpe, o temeroso Golias! Então, os adversários, de molôssos passam a molongós, caindo-lhes, das faces carcumidas, os tristes lepóides.

“Conseqüência deste acontecimento, repercussão deste fenômeno, moralmente inevitável,— sem duvida belo e deslumbrante — apareceu” o jornal «Pátria». E, com este machado nas mãos, o Padre José Paulino saiu cortando as raízes dos arbustos daninhos.. Fundou-se ali uma agremiação de caráter cívico, político e religioso. O destemido sacerdote, sem nunca perder a compostura de ministro do altar; sem faltar com a caridade cristã; mostrando, aos seus companheiros de lutas e, também aos contrários, que agia sempre com sensatez.

Fundaram-se, nesse dia inolvidável 17 de Agosto de 1890, em São José do Mipibú, um partido político e um jornal.

Eis o Diretório:

Presidente: Dr. Horacio Cândido de Salles Silva
Vice-Pres. Cônego Gregório Ferreira Lustosa

1º Secretario: Padre José Paulino de Andrade
2° Secretario: Antônio Xavier de Paiva.

No jornal A Pátria, o Padre José Paulino mostrou o valor de sua pena lépida. Combateu o bom combate. Eis algumas das suas:

“Onde estiver o direito, onde se achar a verdade, onde tremular o lábaro invicto das aspirações democráticas e das doutrinas sublimes do Evangelho, aí estará «A Pátria», a pena e o pensamento dos redatores de nossa modesta folha”.

“A injustiça e ao crime daremos eterno, incessante combate. À virtude e ao mérito, aos heróis da Pátria e da Religião — os nossos hinos de vitória, as nossas palmas de triunfo, as nossas amplas e sinceras ovações”.

Esse jornal, A Pátria, era impresso na tipografia da “Gazeta de Natal” e tinha seu escritório de redação à rua Coronel Bonifácio, 24.

Pelas poucas palavras de Mons. José Paulino, nas colunas de “A Pátria”, não necessita ser o leitor tão grande sábio ou profundo psicólogo, para, facilmente, entender, bem o quanto havia de religião, de patriotismo e retidão de espírito na pessoa do extraordinário padre.

Em toda a sua preciosa vida de trabalho, luta, fluxos e refluxos, jamais perdeu a menor partícula de seu incoercível entusiasmo patriótico, religioso e caritativo.

Quando alguém se levantava contra a Santa Igreja, atacando-a nos seus dogmas, sacramentos e disciplinas, o Pé. José Paulino transformava-se num leão. De um lado, o herético de dentes arreganhados, fauces escancaradas, a ladrar e vomitar peçonhas... do outro lado, o leão que rugia e chegava destemido fazendo calar ou afastar o lectocétalo taralhão. “Et pórtae inferi non praevalébunt adversas eam”. Jamais se calou diante do erro, da mentira, da calunia e das (tão comuns) injustiças! Para com aqueles (tão poucos) que tinham réta intenção e reconheciam seus erros, o Padre era todo bondade e carinho. E, com inteligência, sabia aproveitar a capacidade dos convertidos, fazendo-os arautos da sã doutrina.

Desde a sua ordenação sacerdotal, em 1886, até a sua vinda para o Sul de Minas, em 1895, foram seus Prelados os Exmos. e Revmos. Snrs. Bispos:

D. José Pereira da Silva Barros, até 1891.
D. João Esberard, de 1892 à 1893.
D. Manoel dos Santos Pereira, de 1893 à 1895.


“Sai da tua terra deixa, os teus parentes os próprios pais e vem para uma terra que te eu mostrar. De ti farei sair um grande povo. Abençoar-te-ei, o teu nome será engrandecido e tu serás bendito. Abençoarei aqueles que te abençoarem e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem”. (Gen. 12.1, 2, 3).

“Não há profeta sem honra senão na sua pátria e na sua casa”. (Mat. 13-57).

O Padre José Paulino, inteiramente consagrado e entregue ao serviço de Deus, homem perspicaz, previdente e previdente, culto e capaz, um dia se pôz a pensar... Depois de demorada e madura reflexão, passa a conferenciar com seu bom Prelado.

Com lealdade, confiança e franqueza, expõe tudo ao seu venerando Bispo e Pai de sua alma.

Todo homem, quando é bom e reto nos seus atos, ao tomar uma iniciativa, obedece, sem o saber, a um plano predeterminado por Deus.

Depois dos feitos é que percebe o efeito da ação divina em sua pessoa. Em se tratando de eclesiásticos, a questão é mais patente ainda. Isto nós sabemos pelas histórias de todos tempos e, quiçá, pelas experiências próprias. Nós em nossas empresas e realizações, só temos garantia de bons êxitos, quando agimos de acordo com as decisões de nossos Superiores — os Srs. Bispos. “Spiritus Sanctus pósuit Episcopos régere Ecciesiam Dei”.

Obedecendo docilmente a diretriz de seu bom Pastor, deixa o seu querido Nordeste, pais, irmãos, parente amigos, vem para São Paulo, em Agosto de 1895.

Bem recebido pela Exma. Autoridade Eclesiástica, sentiu-se bem e disposto para novas lutas.

O Exmo. e Revmo. Sr. Bispo de São Paulo D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, vendo no recém-chegado sacerdote nortista, alguém talhado para grandes realizações, nomeou-o Vigário Ecônomo da bela e aprazível Paróquia de Pouso Alegre no Sul de Minas.

Conforme já temos visto, em paginas passadas, S. Excia. D. José Pereira da Silva Barros, paulista de Taubaté, havia convivido algum tempo entre o povo sul-mineiro. Tanto é verdade, que foi ordenado sacerdote na cidade sul mineira de Alienas. De sorte que o Padre José Paulino, já de antemão apreciava aquele povo sem o conhecer, pelo o que dele dizia o seu Bispo D José. Vendo-se nomeado Vigário naquela região, sentiu alívio no coração.

A 5 do Novembro de 1895, recebe a “Portaria nomeando, sob as clausulas do estilo, o Revmo. José Paulino de Andrade para o cargo de Vigário Ecônomo da Paróquia de Pouso Alegre em Minas”, conforme consta no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, na estante 19, prateleira 2, livro 3 e folha 389.

Em Pouso Alegre, o Padre José Paulino foi sucessor do célebre Cônego Vicente de Mello Cezar sacerdote de acrisoladas virtudes.  

Encontrou uma paróquia fervorosa, porque acabava de sair das mãos de um verdadeiro seguidor de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sobre o que foi Mons. José Paulino, durante o seu paroquiato, em Pouso Alegre, ouçamos o que deixou escrito o Cônego Dr. António Boucher Pinto, sacerdote culto e virtuoso, e grande amigo e companheiro de trabalho de Mons. José Paulino. Ninguém melhor que o Cônego Pinto poderia dizer a verdade sobre o nosso biografado.

Eis as suas palavras: —

“Mons. José Paulino”

“Enumerar seus trabalhos é descrever sua vida nesse limitado ciclo de vicariato nesta cidade.

Reformou toda a Matriz, transformando-as em um magnífico templo, que pôde figurar ao lado dos mais belos do Brasil.

Dotou a mesma com ricas imagens, lindas alfaias, tudo por si grangeado entre as famílias de Pouso Alegre e saído, também, de suas economias. Comprou o edifício onde já funciona o Seminário, com imenso terreno edificavel em derredor.

Comprou casas para o patrimônio do Bispado.

Fundou e sustenta ainda a redação do hebdo-madario, antiga Pátria hoje Sul de Minas, veiculo do progresso e pregoeiro das sãs doutrinas na zona sul-mineira.

Com sua palavra persuasiva e carinhosa, tem sido o mantenedor da paz e da tranquilidade dos habitantes de Pouso Alegre.

Pároco zeloso, cura sempre do bem dos que a ele se acham confiados, estabeleceu o Apostolado do Sagrado Coração de Jesus, sob sua direção imediata e gestão de seu coadjutor. (Padre José Maria Mendes).

Impulsionou o progresso da cidade, concorrendo para todas as boas medidas votadas pela edilidade. E muitos outros serviços que sua grande humildade cobre com o véu do segredo, sugeridos todos pela grande caridade que lhe encende o coração. Eis quem é o nosso grande Pé. José Paulino”.

a) Pad. Antônio Pinto

Do “Sul de Minas” de 1900.

Ao tempo em que o Santo Padre o Papa Pio X, hoje santo de nossos altares — foi elevado ao trono pontifício, havia em todo território brasileiro, 2 arcebispados e 17 dioceses apenas. Não havia prelaturas e nem prefeituras Apostólicas.

Somente a Bahia e o Rio de Janeiro eram sedes de arcebispados.

A sede episcopal da Bahia foi elevada a arcebispado em 1677, e a do Rio de Janeiro em 1892.

No curto período de seu árduo e glorioso pontificado —1903 à 1914 —criou 7 arcebispados, 12 dioceses, 4 prelaturas e 3 prefeituras apostólicas.

Por ocasião da fundação da Diocese de Pouso Alegre, em todo o Estado de Minas Gerais, havia somente 2 bispados: Mariana fundado em 1745 e Diamantina em 1854. Coube, portanto, a Pouso Alegre criado em 1900, o 3º lugar.

Em todo o Brasil, foi a 19.a diocese criada. Por ordem cronológica, temos:

1. Bahia, em 1550
2. Rio de Janeiro, em 1676
3. Maranhão, em 1677
4. Olinda, em 1678
5. Pará, em 1719
6. Mariana em 1745
7. São Paulo, em 1745

 

Imagem: Monsenhor José Paulinho de Andrade
Secretário da Sociedade Libertadora do Rio Grande do Norte
Abolicionista e Republicano.