Thomaz Babini

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No livro “Noilde Ramalho – Uma História de Amor à Educação” (2004), de minha autoria, consta uma entrevista que fiz com Alix Ramalho, diretora da Escola Doméstica de Natal no período de 1935 a 1944.  A Assistente Social Alix Ramalho, já falecida, tinha 93 anos quando ocorreu a entrevista; estava lúcida e disposta a falar sobre seu passado na direção da ED. Entre vários assuntos, perguntei-lhe se se lembrava do maestro Thomaz Babini. Resposta: “Lembro muito, era um apaixonado por música. Certa vez, a mãe de uma aluna foi muito grosseira comigo. O maestro Babini percebeu e ficou perto da minha sala, para me proteger se fosse necessário. Graças a Deus não foi preciso a intervenção do Professor Babini (risos).  Dois enteados seus eram alunos de violino e violoncelo (Danilo e Aldo Parisot).”  Essa é uma referência sobre Thomaz Babini (1885-1949) feita por alguém que conviveu de perto com o maestro, durante seu tempo vivido em Natal.  Nascido na Itália, aqui ele chegou em 1907(?). Na sua bagagem, o mais valioso bem: a primorosa formação musical feita em Bolonha com famosos nomes da música erudita da Europa.  Natal tão pequena – cerca de 20 mil pessoas – acolhe tão virtuoso musicista.  É algo inusitado, uma benção cultural que gerou muitas benesses e muitos frutos, cujas sementes germinaram tanto na própria terra potiguar quanto em paragens longes daqui.

Babini abraçou a missão de tudo fazer para florescer a sensibilidade natalense para a música erudita. Entre outras ações, foi professor da Escola Doméstica, onde criou uma orquestra de câmara, bem assim criou e dirigiu uma escola de música no então Theatro Carlos Gomes. Porém, o legado principal e de longo alcance deixado pela presença em Natal de Thomaz Babini foram os músicos que ele formou, alguns dos quais ganharam dimensão nacional e internacional.  O virtuosismo do Professor ao criar e ao interpretar com o violino e o violoncelo estendeu-se aos alunos que se tornaram mais conhecidos do que o mestre: Mário Tavares, Waldemar de Almeida, Aldo Parisot e Italo Babini.

 

No seu livro “A Música Através dos Tempos”, Oriano de Almeida, ao enumerar os principais nomes da música erudita do Brasil no século XX, inclui dois dos acima citados: Mário Tavares e Waldemar de Almeida.  Aldo Parisot e Italo Babini galgaram as alturas da fama no exterior.  Parisot, solista de importantes orquestras do mundo, como as filarmônicas de Berlim e de Nova York, foi professor catedrático da Yale University, nos Estados Unidos.  Italo Babini, natalense, filho de Thomaz Babini, fez os primeiros estudos com o pai, em Natal e no Recife, passou curtas temporadas no Rio e em Munique, até se fixar nos Estados Unidos, na condição de primeiro violoncelo da Detroit Symphony Orchestra, por quatro décadas.  Seu currículo inclui honrosos convites, parcerias e gravações com nomes de destaque mundial.

De 22 a 25 de maio/2012, a Escola de Música da UFRN realizou o Festival Thomaz Babini, em honra ao grande músico/maestro que um dia aportou em Natal, há cerca de um século, e aqui viveu por mais de três décadas.  Foi um evento memorável, perfeito, emocionante, com ênfase pela presença em Natal do professor Italo Babini.  Tudo começou com a brilhante palestra do escritor Cláudio Galvão – “Thomaz Babini e a Escola de Violoncelos de Natal”.  Italo Babini, aos 83 anos, ao lado da virtuose pianista norte-americana Ruth Smith, e, em seguida, como solista da Orquestra Sinfônica da UFRN, sob a regência de Fábio Presgrave, brindou os presentes com um dos momentos mais belos da música instrumental clássica.  Ao final, fui abraçar Italo Babini, quando lhe entreguei um exemplar do livro biográfico “Noilde Ramalho”, no qual constam uma nota sobre sua jornada de glórias e fotos legendadas do seu pai, o grande maestro Thomaz Babini.

Daladier Pessoa Cunha Lima - Reitor do UNI-RN