Hospital Giselda Trigueiro

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Hospital Giselda Trigueiro

          Porta de entrada para estudantes de medicina e residência médica em infectologia, o Hospital Giselda Trigueiro é referência da especialidade no RN.

O Hospital Giselda Trigueiro, que inicialmente teve o nome de Evandro Chagas, nasceu na década de 1940, a partir de uma enfermaria do Hospital Colônia Dr. João Machado. O local, onde só haviam colchões, tinha pouca estrutura e era destinado ao isolamento dos portadores das doenças mais contagiosas da época – varíola, varicela e tuberculose.

          Com a criação da UFRN, em 1958, os alunos do curso de medicina que pagavam a disciplina de doenças infecciosas, passaram a atuar no hospital e dar plantões, já que na época não havia médicos plantonistas.

          Em 1961, a Dra. Maria Giselda da Silva Trigueiro, médica infectologista, iniciou sua carreira como professora da Faculdade de Medicina da UFRN, na cadeira de Clínica de Doenças Tropicais e Infecciosas, passando desde então a ser responsável pela disciplina. Era especialista em doenças infectocontagiosas, sendo pioneira no estudo de doenças tropicais e assumiu os cuidados com os doentes desta especialidade.

          Ainda nos anos 60 o Sanatório Getúlio Vargas foi transferido para um novo prédio e a sede antiga passou a ser um hospital para tratamento de doenças infecto-contagiosas: o Hospital Evandro Chagas dirigido por Dra. Giselda. A unidade de saúde do governo do estado estava localizada na Avenida Coronel Estevão, esquina com a Presidente Bandeira, no Alecrim. O local, bem mais amplo, oferecia espaço para internar pacientes com outras doenças como hepatite, febre tifóide, tétano e esquistossomose.

          Já na década de 70, o então estudante e hoje infectologista – que já dirigiu o hospital -, Antonio Araújo era um destes estudantes. Ele relembra que, na época, sentiu uma grande identificação com a disciplina e com os pacientes e, como sua casa ficava ao lado, passou praticamente a morar no hospital. “Fiquei como se fosse assim... morando. Nos horários que não tinha aula, ia sempre para lá. Em 72 passei a dar plantão voluntário noturno e nos finais de semana”, lembra.

          Entre os primeiros médicos do Hospital Evandro Chagas, estavam o Dr. Iron Idalino, Daladier da Cunha Lima, Carlos Dutra, Carlos Fonsêca, Roberto Carlos Rosado e Vivaldo Costa.

         Neste período, os estudantes davam plantões supervisionados pela Dra. Giselda, que ficava de sobreaviso em casa. Se houvesse algum problema mais grave – o que raramente ocorria – ela era acionada por telefone. Como os pacientes já chegavam ao hospital, encaminhados pelos atendimentos de urgência e com uma suspeita de diagnóstico, o trabalho dos estudantes era facilidade. As doenças mais comuns eram a difteria – em grande quantidade -, o tétano e, começavam a surgir as meningites.

          Entre 1973 e 1974, diante do surto de meningite, Dra. Giselda criou uma escala de médicos plantonistas para orientar os estudantes na realização de punções e tratamentos dos casos graves da doença. Não existia UTI, e os pacientes eram internados em locais separados para doentes graves e doentes moderados. Faziam parte da escala os médicos Francisco de Lima, Manoel Messias, José Jailson e Cleide Dias, sempre chefiados pela Dra. Giselda.

          O Hospital contava com cerca de 50 leitos, divididos em enfermarias de adultos e crianças e não dispunha de laboratório, raio X, nem aparelhos para exames de ultrassonagrafia. Apesar da precariedade das condições, Havaí um grande empenho por parte dos médicos, em darem o diagnóstico clínico nos casos de doenças como meningite, hepatite, pneumonia e tuberculose.

Novas Instalações

          No início da década de 80, já funcionando no atual prédio na Rua Cônego Monte, nas Quintas, os exames de raios X eram realizados no antigo sanatório, Hospital Getúlio Vargas, que ficava em terreno vizinho e os exames complementares eram realizados no Hospital Onofre Lopes, exigindo o deslocamento dos pacientes internados. Pouco tempo depois, Dra. Giselda conseguiu montar um pequeno laboratório no próprio hospital, onde eram feitos os exames básicos como hemograma, parasitológico de fezes e sumário de urina. Ainda nos anos 80, foram instalados uma UTI e um laboratório de análises clínicas de maior porte.

          Com a modificação do Programa de Tuberculose, quando apenas os doentes graves continuavam internados, houve a fusão dos dois hospitais mantendo a denominação de Hospital Evandro Chagas e permanecendo sob a direção da Dra. Giselda Trigueiro.

         Após a morte prematura de Dra. Giselda, em 11 de maio de 986, o hospital recebeu o seu nome, numa justa homenagem e reconhecimento àquela que por mais de 25 anos foi a mentora, orientadora e líder na administração do Hospital Evandro Chagas e no ensino de doenças infecciosa no RN.

         Para o Dr. Antonio Araújo – que dirigiu o Hospital Giselda Trigueiro de 1986 a 1996 – no início do hospital, a precariedade da estrutura e das condições de trabalho, serviram de escola para os alunos de medicina. Os estudantes aprendiam bem mais, por que a falta de exames complementares obrigava-os a examinar detalhadamente o paciente e fazer uma história clínica. Este histórico do paciente era apresentado à Dra. Giselda que, freqüentemente, mandava o trabalho ser refeito inúmeras vezes, já que uma história clínica e exame físico bem feitos correspondem a 50% de um diagnóstico.

Reconhecimento

         Parte do crescimento e reconhecimento do Hospital como referência em doenças infecciosas se deve ao curso de medicina da UFRN e à dedicação dos estudantes, orientados pelos professores e pela Dra. Giselda. Ela também criou a Residência Médica em Doenças Infecciosas, em 1978, o que gerou um grande impulso, não só ao Hospital, como a própria especialidade no RN.

         Este avanço foi mais acentuado com o surgimento da Aids e de algumas epidemias como a cólera e até mesmo a meningite, tornando a especialidade mais forte perante o governo e a população. O aumento da necessidade dos serviços de infectologia obrigou o poder público a realizar mais investimentos no setor.

        Hoje, o hospital dispõe de 90 leitos, conta com mais de 50 médicos em seu corpo clínico e foram implantados novos métodos de diagnósticos como ultrassonografia, broncoscopia, endoscopia e alguns exames laboratoriais específicos. No caso de exames mais caros e sofisticados, como os que dão diagnósticos de Aids e hepatite, é utilizada a estrutura do Laboratório Central, instalado em um prédio vizinho.

        Os leitos estão divididos em várias enfermarias destinadas a portadores de tuberculose (resquícios ainda do sanatório), Aids, pediatria e doenças infecciosas diversas, além de uma UTI para adultos, com sete leitos.

         Atualmente, passam pelo Hospital Giselda Trigueiro estudantes de vários níveis dos cursos de enfermagem e de medicina de várias faculdades, além de farmácia, nutrição, psicologia, fisioterapia, etc.

         Dr. Antonio Araújo destaca que se não fosse o hospital e seus componentes, o ensino e o aprendizado sobre doenças contagiosas no RN não teriam a estrutura e a força que têm hoje. “O hospital e os ensinamentos de Dra. Giselda nos deram uma grande missão: fazer crescer e dar continuidade à infectologia em nosso estado”, concluiu.

         Sobre Dra. Giselda, escreveu o professor Daladier Pessoa da Cunha Lima: “Grandeza humana acompanhava todas suas ações, no exercício profissional, na amorosa convivência familiar, nas amizades e na participação comunitária. Até mesmo quando ouviu a sentença de que sobreviveria somente 2 a 3 meses, em fase avançada de inexorável doença, ela disse ao médico norte-americano que a assistia:”Obrigada Doutor, pelos 6 anos de vida que o senhor me deu”. Consciente da inelutável situação de saúde, escreveu o próprio epitáfio, que se harmoniza à sua visão da vida e do mundo: “Aqui jaz Giselda, muito contra a vontade”.