Instituto José Maciel

Fazenda Timbaúba dos Gorgônios

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Fazenda Timbaúba dos Gorgônios

               O Casarão da Fazenda Timbaúba dos Gorgônios, município de Ouro Branco, em pleno Seridó, é um desses belos monumentos do século passado que ainda resiste à ação do tempo e da civilização. É uma construção de 1856, no estilo da época, “colonial rural do Seridó”, que ainda não foi bem estudado.
               Já ouvi um versão, admitindo sua origem em Portugal, sendo transplantando para China (Macau), onde sofreu as influências locais, vindo depois para o Seridó. Esta, certamente, é uma hipótese a ser pesquisada.
               De construção muito sólida (paredes largas) tem somente duas águas; uma cumeeira muito alta, atravessada no meio, com telhado longo que desce direto até os beirais. No Seridó paraibano, onde nascem os rios dessa região, o homem dali chama de “casa com telhado de arrasto” - informação colhida com Airton Wanderlei, fazendeiro da área de Patos-PB.
               Seguindo um hábito seridoense, a casa foi construída com a frente para o nascente. São sete quartos em baixo, dois no sótão, duas salas na frente, um salão, sala de oratório, copa cozinha e despensa, latrina, cinco quartos externos, alpendre na frente, área murada nos fundos e uma casa de farinha anexa.
               As duas salas da frente são interligadas entre si, com saídas independentes para o alpendre. Os aposentos, por questão de segurança, estão localizados no centro da casa, sem janelas para o exterior. O salão, embora localizado bem no interior da casa, tem acesso direto à sala da frente, através de um corredor lateral. A cozinha comunica-se com a sala de jantar, através da copa e da sala de oratório.
               Na parte de trás existe uma área murada, onde estão localizados a cozinha do queijo e um quarto de depósito com um velho pilão. Mais adiante, a latrina, que se limita com o muro ultrapassado com um fosso do lado de fora. A murada tem pelo menos uma braça e meia de altura, com a parte de cima abaulada (igual aos muros da região do Minho, em Portugal), o que dificulta a entrada de intrusos.
               Por aí, chega-se ao forno de assar bolos, localizado ao relento, assim como os chiqueiros das aves e dos porcos. Os dois quartos do sótão eram poucos usados e de preferência, pelas moças da casa. Funcionalmente falando, aquele casarão separa muito bem os homens e mulheres e chega-se a conclusão de que foi planejado visando a segurança delas e das crianças.
               Aos homens, só o salão com os três quartos internos ligados a ele, a sala de frente e o alpendre. Os quartos externos, apesar de serem usados como depósito de selas e arreios, faziam as vezes de dormitórios. O restante da casa era domínio das mulheres.
               O madeirame ainda está em perfeito estado de conservação; tudo em madeira de lei (miolo de aroeira). As portas de cedro, com grandes dobradiças e fechaduras de ferro batido, com chaves enormes.
               Do mobiliário original, nada mais resta. Era uma mobília muito pobre e simples, contrastando com imponência da casa. Bancos coletivos, feitos de pranchas de pau d’arco; tamboretes de madeira-de-lei, com tampo de sola; mesa de cumaru; vários baús, forrados de couro, com taxas de cabeça arredondada, formando desenhos; armários para louça, sem nenhum acabamento especial. Guarda-roupas não eram usados, já que os baús funcionavam em seu lugar.
               O casarão da Fazenda Timbaúba, hoje desativada, ainda está lá. Em seu frontispício, duas datas: 1856, ano da primeira fase da construção; 1862, ano da conclusão.

Escrito por Pery Lamartine
Publicado na Folha da Memória do IPHAN

 
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