Instituto José Maciel

Gago Coutinho (1869-1959)

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Carlos Viegas Gago Coutinho, nasceu em Belém, Lisboa (17/02/1869) – Portugal. Em 1885 concluiu o curso do Liceu e matriculou-se na Escola Politécnica para preparar a sua entrada na Escola Naval, um ano depois, como aspirante da Armada. Em 1890 foi promovido a guarda-marinha, depois a segundo-tenente (1891), passou a primeiro-tenente (1897), foi promovido ao posto de capitão-tenente (1907) e em 1915 ao posto de capitão-de-fragata. Em 1920 passou a capitão-de-mar-e-guerra. Em 1922 foi promovido ao posto de vice-almirante e, em 1958, a almirante.

Foi membro de diversas associações científicas, entre as quais a Academia das Ciências, a Academia Portuguesa de História, a Sociedade de Geografia de Lisboa e várias Sociedades de Geografia do Brasil. Podemos dividir a atividade de Gago Coutinho em 4 áreas que se sucedem cronologicamente, enquanto áreas de atuação prioritária: Marinha (sobretudo entre 1893 a 1898), Trabalhos Geográficos (1898 a 1920), Navegação Aérea (1919 a 1927) e História da Náutica e dos descobrimentos (1925 a 1958).

O seu primeiro embarque prolongado foi na corveta “Afonso de Albuquerque” (entre 07/12/1888 a 16/01/1891), em viagem para Moçambique e na Divisão Naval da África Oriental. Desta corveta passou à canhoneira “Zaire”, na qual esteve até 24/04/1891, viajando para Lisboa.

Colocado na Divisão Naval da África Ocidental, embarcou sucessivamente na lancha-canhoneira “Loge” (que comandou), na canhoneira “Limpopo”, na canhoneira “Zambeze” e na corveta “Mindelo”. Em serviço nesta corveta no Brasil em 1894 contraiu a febre amarela, quando foi internado no Hospital da Beneficência Portuguesa, no Rio de Janeiro. Novamente na Metrópole, esteve embarcado na canhoneira “Liberal” e na corveta “Duque da Terceira” – na qual fez outra viagem pelo Atlântico Norte.

Desde março de 1898 a maior parte da atividade de Gago Coutinho desenvolveu-se no âmbito da Comissão de Cartografia, nascida em 1883. Primeiramente, ele realizou muitos trabalhos de campo de delimitação de fronteiras das Colônias Portuguesas ou de geodésia processados em Timor, Moçambique, Angola, e São Tomé. E, a partir de 1919, como vogal, passando a presidir aos seus destinos em 1925, até à sua transformação na Junta de Investigações do Ultramar, em 1936.

Foi nomeado chefe da Missão Geodésica da África Oriental, nela tendo trabalhado durante cerca de 4 anos, de maio de 1907 até ao início de 1911. Foi nesta missão que conheceu Sacadura Cabral, com quem travou amizade e que viria a ser o mentor dos projetos futuros de navegação aérea. Em meados de 1919, quando terminava os trabalhos relativos à missão geodésica de S. Tomé, Gago Coutinho, incentivado por Sacadura Cabral, começou a dedicar-se ao progresso dos métodos de navegação aérea. Tinham voado juntos pela primeira vez em 1917. Sacadura Cabral já planejava viagem aérea ao Brasil, que pretendia fazer por altura da comemoração do centenário da independência desse país.

Gago Coutinho passou então a dedicar-se à resolução dos problemas que se punham à navegação aérea sem pontos de referência à superfície. Para experimentar os processos de navegação aérea em estudo, Cabral e Coutinho fizeram diversas viagens juntos, incluindo a primeira viagem aérea entre Lisboa e Funchal, em 1921, aperfeiçoando deste modo os métodos de observação em desenvolvimento. Estes estudos culminaram em 1922 com a realização da viagem aérea entre Lisboa e o Rio de Janeiro.

1ª TRAVESSIA AÉREA DO ATLÂNTICO SUL – CONQUISTA PORTUGUESA
A 1ª travessia aérea do Atlântico Sul foi concluída pelos portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, entre Lisboa e o Rio de Janeiro, de 30/03/1922 a 17/06/1922. Um hidroavião monomotor, batizado de “Lusitânia”, realizou o primeiro voo transoceânico ligando Portugal ao Brasil. Esta também é a primeira em que foram transpostos o Trópico de Câncer e a Linha do Equador. Partiram de Lisboa com destino a Las Palmas, nas Ilhas Canárias. A segunda etapa iniciou-se no dia 2 de abril com destino a São Vicente, no Arquipélago de Cabo Verde. De lá, no dia 18, apoiado pela canhoneira Bergo e pelo cruzador República, o hidroavião decolou do Porto da Praia, na Ilha de Santiago, rumo aos Penedos de São Pedro e São Paulo, já em águas brasileiras. O mar revolto naquele ponto, porém, causou danos ao “Lusitânia” que perdeu um dos flutuadores. Eles foram recolhidos por um Cruzador da Marinha Portuguesa que os conduziu até Fernando de Noronha. Apesar de tudo, os aviadores comemoraram o “achamento” com precisão daqueles rochedos em pleno Atlântico Sul, apenas com o recurso do método de navegação astronômica criado por Coutinho.

Em Noronha, receberam um telegrama de felicitações de Santos Dumont; o qual foi respondido em 27 de abril... O governo português, no propósito de facilitar a obra dos aviadores, fez seguir pelo paquete do Loide Brasileiro Bagé, um novo hidroavião; o qual chegou no dia 6 de maio em Noronha. No dia 7 foi colocada uma placa comemorativa na ilhota de São Pedro, onde os aviadores perderam o seu primeiro aparelho... Eles só conseguiram decolar em 5 de junho com uma terceira aeronave, o hidroavião “Santa Cruz”, cumprindo a última parte do trajeto da ilha até Recife. Ao olhar o bote que levada as suas coisas, Coutinho disse: “Vem lá a minha mala... E trago nela correio para cá. Parece-me que é a primeira vez que Fernando de Noronha manda correio aéreo para aqui!” Notícias do Diário de Pernambuco... De Recife, no dia 8, efetuaram várias escalas (Salvador, Porto Seguro, Vitória) até chegarem na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Total: 4.527 milhas (62h26m).
Filatelia Temática – Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul

É muito interessante notar que as duas emissões de todas as ex-colônias de Portugal, juntas, narram parte da biografia (conquistas, invenções, trabalhos) e homenagens prestadas a Gago Coutinho, assim como a história da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul.

Primeiramente, em 1969, cada uma das sete ex-colônias emitiu um selo postal em comemoração ao “Centenário do Nascimento de Gago Coutinho 1869-1969”, cujos selos, todos com impressão litográfica Lito.Nacional.Porto.Portugal, mostram o retrato de Coutinho e parte de sua biografia.

Depois, em 1972, novamente cada uma das sete ex-colônias emitiu um selo postal em comemoração ao “Cinquentenário da 1ª Viagem Aérea Lisboa-Rio de Janeiro 1922-1972”, cujos selos, todos com impressão litográfica Lito.Maia.Porto.Portugal, mostram um determinado momento dessa viagem histórica.

Assim, nesta ordem: Timor, Guiné Portuguesa, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Macau narram, através da Filatelia Portuguesa (uma vez que todos estes selos foram impressos na cidade do Porto, em Portugal), a 1ª Viagem Aérea desde o início em Lisboa, passando por Cabo Verde, Penedo de São Pedro, Fernando de Noronha, Recife e finalmente a chegada no Rio de Janeiro.

O sextante, aparelho usado no mar desde meados do século XVIII, cujo termo popular era apenas conhecido nos meios náuticos, com a adaptação de Coutinho, passou a ser conhecido mundialmente e possibilitou vencer as grandes rotas aéreas transatlânticas.

Se Pedro Álvares Cabral descobrira o Brasil no século XVI por via marítia, dois portugueses o atingiram no século XX por via aérea... Estava assim marcado nas páginas de ouro da aviação um de seus mais empolgantes capítulos: o Oceano Atlântico foi atravessado pelo avião com o uso de seus próprios meios. Depois disso, várias outras travessias foram feitas no Atlântico Sul. Em todas elas a eficiência do sextante de Coutinho foi comprovada: Ramon Franco, Sarnento de Beires, o voo do avião DOX, dos Zeppelins etc.

Timor – A corveta couraçada “Vasco da Gama” foi na qual transitou para a sua primeira comissão de geógrafo ultramarino... Entre 27/07/1898 e 19/04/1899, esteve envolvido em trabalhos de campo na delimitação de fronteiras (com a parte da ilha então ocupada pelos holandeses) e no levantamento da carta deste território.

1969 – Selo com valor facial de 4$50 que mostra o retrato de Coutinho e a Fragata Almirante Gago Coutinho.
1972 – Selo com valor facial de 1$ que mostra Cabral e Coutinho a bordo do hidroavião “Lusitânia”.
Guiné Portuguesa

1969 – Selo com valor facial de 1$00 que mostra o retrato de Coutinho e o “Astrolábio de Precisão” de Gago Coutinho.
1972 – Selo com valor facial de 1$ que mostra a partida em 30/03/1922: Largada de Lisboa do “Lusitânia”, da doca da Marinha, na enseada de Bonsucesso – águas do Tejo, junto à Torre de Belém (que aparece ao fundo do selo). Yvert: 254.

Nota: Numa maleta os portugueses levaram algumas tabelas de desvios, quatro quilos de chocolate, um tanque com água, uma garrafa de vinho do Porto, bolachas água e sal, medicamentos, uma pistola de sinais e um exemplar dos Lusíadas (edição de 1570).
Cabo Verde
1969 – Selo com valor facial de $30 que mostra o retrato de Coutinho, o hidroavião e a rota da Travessia Aérea, cujo itinerário identifica: Lisboa, Canárias, Cabo Verde, Penedo S. Pedro, Pernambuco e Rio de Janeiro. Scott: 355.
1972 – Selo com valor facial de 3$50 que mostra o “Lusitânia” em São Vicente, no Arquipélago de Cabo Verde, também as Armas de Portugal no leme e a Cruz de Cristo nas laterais e asas. Yvert: 582.

São Tomé e Príncipe

Em 1914, na metrópole, Gago Coutinho foi nomeado para o ano seguinte a chefe da Missão Geodésica de São Tomé. Entre 1915 e 1918 implantou marcos para o estabelecimento de uma rede geodésica daquela ilha, fez observações de triangulação, medição de precisão de duas bases e numerosas observações astronômicas. No decurso destas observações comprovou a passagem da Linha do Equador pelo Ilhéu das Rolas. A Carta resultante destas observações foi entregue em 1919, em conjunto com o Relatório da Missão Geodésica da Ilha de S. Tomé, que foi considerado oficialmente o primeiro trabalho de geodésia completo referente a uma das Colônias Portuguesas.

1969 – Selo com valor facial de 2$00 que mostra o retrato de Coutinho e rotas no Ilhéu Gago Coutinho (ou Ilhéu das Rolas), também o morro de S. Francisco (96).
1972 – Selo com valor facial de 2$50 que mostra o “Lusitânia” e o navio de apoio no Penedo de São Pedro.
Angola
Em 1901 e 1902, Gago Coutinho chefiou a equipe de delimitação de fronteiras do norte de Angola, entre esta Colônia e o Congo Belga. Dedicou-se à delimitação da fronteira de Noqui para o rio Cuango, até fins de 1901. Em 1912, trabalhou na delimitação da fronteira leste com a Rodésia, chefiando a missão portuguesa de delimitação da fronteira de Angola no Barotze...

1969 – Selo com valor facial de 2$50 que mostra o retrato de Coutinho e a Lancha Canhoneira “Loge” (Primeiro Navio que o Almirante comandou). Yvert: 556.
1972 – Selo com valor facial de 1$ que mostra a partida do “Santa Cruz” de Fernando de Noronha, com o Morro do Pico ao fundo, rumo à cidade do Recife. Yvert: 579.

O hidroavião “Lusitânia” jamais esteve em Noronha; tendo afundado próximo aos Penedos de São Pedro e São Paulo. Os aviadores permaneceram na ilha de Fernando de Noronha durante um mês e meio (48 dias): chegaram de navio no dia 18 de abril e partiram com o hidroavião “Santa Cruz” em 05/06/1922.
Moçambique
Entre 05/09/1900 e 28/02/1901, foi nomeado para a delimitação de fronteiras no Niassa, onde delimitou as fronteiras no Zambeze e no lago Niassa, estabelecendo também triangulações. Depois, entre 27/02/1904 a 18/12/1905, trabalhou na delimitação de fronteiras no Distrito de Tete. Também voltou a trabalhar naquela Colônia entre 1907 e 1910...

1969 – Selo com valor facial de $70 que mostra o retrato de Coutinho e o Aeroporto Almirante Cago Coutinho.
1972 – Selo com valor facial de 1$ que mostra o “Santa Cruz” sobrevoando a costa da cidade do Recife e barcos com as bandeiras nacionais do Brasil e de Portugal. Yvert: 564.
Macau
1969 – Selo com valor facial de 20 avos que mostra Coutinho e o sextante sistema Almirante Gago Coutinho.
1972 – Selo com valor facial de 5 patacas que mostra o hidroavião “Santa Cruz”, com as bandeiras nacionais do Brasil e de Portugal, ao amerrisar na cidade do Rio de Janeiro. Yvert: 426.
Filatelia Portuguesa e Brasileira
1923 – Série de 16 valores “Descobrimento do Brasil 1500 e Travessia do Atlântico Sul 1922”. Todos os selos mostram a mesma imagem: retratos dos Presidentes do Brasil (Dr. Epitácio Pessoa) e de Portugal (Dr. Antônio José de Almeida 1866-1929 – grande orador e 6º presidente de Portugal 1919-1923 à época do primeiro centenário da independência do Brasil), retratos de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, o Pão de Açúcar (Rio de Janeiro – Brasil) e a Torre de Belém (Lisboa – Portugal), além de alegorias à navegação por mar (caravela) e por ar (hidroavião). Valores que compreendem a emissão: 1 centavo, 2 centavos, 3c, 4c, 5c, 10c, 15c, 20c, 25c, 30c, 40c, 50c, 75c, um escudo (1$00), um escudo e cinquenta centavos (1$50) e dois escudos (2$00) – selo de maior valor facial mostrado abaixo. Yvert: 257/272.
Portugal 30/03/1969 – Envelope da TAP emitido em homenagem ao 1º Centenário do Nascimento do Almirante Gago Coutinho, comemorando a 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul, Lisboa 30/03/1922 – Rio de Janeiro 17/06/1922; circulado de Lisboa para Blumenau, em Santa Catarina (SC). Peça adquirida de Cláudio em 10/07/10.
Portugal 1969 – Série de 4 valores “1º Centenário do Nascimento de Gago Coutinho 1869-1969”. Em todos os selos aparece o retrato de Gago Coutinho, sendo que dois deles mostram o hidroavião e a frase “Lisboa – Rio de Janeiro: 1922” (1$00 e 3$30), e os demais selos mostram a frase “Sextante: Sistema Almirante Gago Coutinho” (2$80 e 4$30). Desenhista: C. Costa Pinto. Impressora: Casa da Moeda. Yvert: 1065/1068. Curiosidade: No ano do centenário de Coutinho o homem chega na Lua...

O Brasil, por sua vez, emitiu no mesmo ano de 17/06/1969 um carimbo comemorativo alusivo ao “Centenário do Nascimento de Gago Coutinho e Chegada ao Rio em 17/06/1922, Correio – Rio de Janeiro – GB, 17/06/1969”. Nota: Coutinho foi considerado a maior figura aeronáutica, depois de Santos Dumont...
Portugal 17/06/1972 – Fragmento de envelope com carimbo comemorativo 1ª Viagem Aérea: Lisboa – Rio de Janeiro. Nota: No ano desse cinquentenário o Brasil emitiu um selo alusivo a visita do Presidente de Portugal, Américo Thomaz.

Portugal 15/11/1972 – Série de 4 valores “Cinquentenário da 1ª Travessia Aérea do Atlântico Sul 1922”. Em todos os selos aparece o hidroavião, sendo que dois deles mostram os retratos de G. Coutinho e S. Cabral (1$00 e 2$80), e os demais selos mostram, além do mapa com partes da Europa, África e América do Sul, o itinerário percorrido entre Lisboa e o Rio de Janeiro (2$50 e 3$80). Serviços Artísticos dos C.T.T. Impressora: Casa da Moeda. Yvert: 1169/1172. Nota: Na coleção há também um cartão com a série obliterada por carimbo comemorativo.
15/10/1982 – Série de 4 valores “Lubrapex 82”, IX Exposição Filatélica Luso-Brasileira, ocorrida em Curitiba (PR). Um dos selos, mostrado no cartão-postal abaixo, é sobre a Travessia do Atlântico Sul em 1922, com valor facial de 10,00 o selo mostra o hidroavião “Fairey-III”. O hidroavião frágil, de alumínio, aço e tela, foi fabricado na Casa Fairey, Inglaterra. Podia voar um máximo de 13 horas, com média horária de 120 quilômetros e velocidade máxima de 70 milhas horárias. Toda a viagem foi feita em aviões Fairey 17, equipados com um motor Rolls Royce de 360 HP (muito usado pela Marinha Britânica para atirar torpedos), com capacidade para 200 galões de gasolina ou 8 mil litros de gasolina (18 horas de gasolina ou 18 galões por hora), com vento máximo de 13 milhas... Yvert: 1556. Nota: Na coleção há também o FDC da série.

A partir do momento em que voou pela primeira vez com Sacadura Cabral, em 1917, Gago Coutinho tentou resolver os problemas que se punham à navegação aérea. Colocava-se o problema da dificuldade de definição da linha do horizonte a uma altura normal de voo. A dificuldade em efetuar medições precisas de posição em situação de voo com um sextante vulgar colocava problemas de natureza instrumental e metodológica.

Para resolver o problema de medição da altura de um astro sem horizonte de mar disponível Gago Coutinho concebeu o primeiro sextante com horizonte artificial que podia ser usado a bordo das aeronaves. Este instrumento, que Coutinho denominou “astrolábio de precisão”, permitiu materializar um horizonte artificial. Ele adaptou ao sextante um pequeno nível com bolha de ar (dotado de um sistema de iluminação elétrico que permite fazer observações noturnas) e elaborou uma série de normas que consistiam na aplicação, durante o voo, dos mesmos princípios relativos ao uso do sextante no mar.

Entre 1919 e 1938 Gago Coutinho dedicou-se ao aperfeiçoamento deste instrumento, que veio a ser fabricado e difundido pelo construtor alemão C. Plath com o nome de “System Admiral Gago Coutinho”.

Em colaboração com Sacadura Cabral concebeu e construiu um outro instrumento a que chamaram “Plaqué de abatimento” ou “corretor de rumos”, que permitia calcular graficamente o ângulo entre o eixo longitudinal da aeronave e o rumo a seguir, considerando a intensidade e direção do vento.

Para comprovar a eficácia dos seus métodos e instrumentos, Coutinho e Cabral fizeram várias viagens aéreas, entre as quais uma viagem Lisboa-Funchal, em 1921, em cerca de sete horas e meia. Nesta viagem, Gago Coutinho executou 15 cálculos de retas de altura e várias observações da força e direção do vento.

Segundo escreveu, os processos de navegação utilizados “eram os suficientes para demandar com exatidão qualquer ponto afastado da terra, por pequeno que fosse, recurso este que se tornava muito essencial numa projetada viagem aérea de Lisboa ao Brasil”.

A viagem que finalmente demonstrou a todo o mundo o valor destes instrumentos e métodos foi a Travessia Aérea do Atlântico Sul, entre Lisboa e o Rio de Janeiro.



Corretor de rumos Coutinho Sacadura, utilizado na navegação Sextante de Gago Coutinho usado na travessia do Atlântico.

Após esta viagem e as subsequentes homenagens e recepções oficiais, Gago Coutinho continuou a trabalhar na Comissão de Cartografia e passou a dedicar grande parte da sua atenção à história das viagens do descobrimento dos séculos XV e XVI, tendo publicado muitos textos em que analisava os métodos utilizados e procurava explicar como conseguiram os portugueses realizar as navegações a longa distância e ver terra nos séculos XV e XVI.

A partir das suas experiências de navegação à vela em diversos navios em que prestou serviço procurou explicar como os portugueses utilizavam já então os métodos mais adequados para fazer face aos ventos e correntes contrárias.

Fez viagens em que praticou a observação com astrolábio semelhante aos que usavam os portugueses no século XV, comparando os seus resultados com os obtidos em sextantes e cronômetros com auxílio de sinal de rádio. Destes estudos concluiu que a experiência dos navegadores portugueses da época dos descobrimentos foi determinante para possibilitar a navegação astronômica, e que as viagens eram devidamente planeadas a partir da experiência e que as suas rotas de regresso não eram fruto das tempestades e outros imprevistos, como defendiam alguns historiadores...

São de destacar os seus estudos sobre o regime de ventos e correntes no Atlântico Norte, que obrigava os navegadores portugueses a contornar pelo mar largo as correntes e ventos contrários, no regresso da Guiné ou da Mina. Esta manobra, chamada volta da Guiné ou volta da Mina, e que Gago Coutinho habitualmente chamava “volta pelo largo”, começou a ser praticada em meados do século XV, sendo no início do século XVI uma navegação de rotina.

A única publicação em livro foi o Relatório da Missão Geodésica da Ilha de S. Tomé 1915-1918. No entanto, publicou inúmeros trabalhos em publicações periódicas, tendo sido muitos destes trabalhos reunidos em dois volumes organizados e prefaciados pelo Comandante Moura Brás: A náutica dos descobrimentos.

Os descobrimentos marítimos vistos por um navegador: coletânea de artigos, conferências e trabalhos inéditos do Almirante Gago Coutinho, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1951-1952, 2 vols.

Muitos outros textos foram publicados em dois volumes editados por Teixeira da Mota: Obras completas de Gago Coutinho, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1972.

FONTE: girafamania.com.br 
 
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