Instituto José Maciel

O Porto de Macaiba

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Ali por metade do século passado, chegou às margens do Jundiahy, um pernambucano corajoso e empreendedor, a quem a precariedade dos negócios na cidade de Goyanna, obrigou a emigrar em busca de terra mais propícia. Essa terra foi o Arrayal de Coité, por ele fundado na margem esquerda daquele rio, cuja crescente prosperidade elevou-o a categoria de vila, já então com o nome de Macahyba, actualmente a velha cidade despojada de uma situação opulenta no comércio e na política.

Esse pernambucano foi o major Fabrício Gomes Pedroza. Na escolha daquele local há a considerar a visão do homem inculto, mas seguro na sua intuição. Não foi a esmo que ele se fixou naquele ponto. Antes de o fazer considerou as condições de distância do sertão, salubridade do logar, suprimento de água potável, via de comunicação constante e barata, sem o que sua corajosa iniciativa não poderia ter êxito.

Fixar-se em Natal, seria distanciar-se do interior longínquo, cidade aquele tempo de acesso penoso por via terrestre, devido ao extenso areial inacessível aos comboios que transportavam os pesados produtos da lavoura sertaneja.

 

A primeira construção, depois da casa da vivenda, foi um armazém de sal no barranco do rio, onde chegavam folgadamente botes e barcaças do maior calado então registrado.

A fundação de um estabelecimento comercial onde se vendia de tudo, acrescido da compra e venda de mercadorias produzidas na província, favoreceu a creação de uma feira, que de pequena reunião, não tardou em use transformar numa das maiores, senão a mais importante daquele tempo.

Quase se pode afirmar que a fortuna de Macahyba, desde o início, esteve ligada ao rio que lhe facilitando por um transporte barato o seu intercâmbio comercial, deu-lhe uma preponderância que durante longos anos superou na sua vida econômica, social e política, a própria capital.

Os que já não são moços se recordam dessa ascendência, quando Macahyba por intermédio de suas casas comerciais, que eram verdadeiros bancos, financiavam os engenhos existentes em todos os vales da província, e eram as únicas compradoras do açúcar neles produzido. Como igualmente o foram do couro e do algodão, mercadoria esta que por ocasião da guerra da secessão dos Estados Unidos, muito contribuiu para aumentar-lhes a prosperidade.

Como o decorrer dos anos essa superioridade foi diminuindo, a princípio com a concorrência da Guarapes, para onde transferiu os seus negócios o major Fabrício e depois em proveito de Natal, por fatores de influência naturais e imperiosos.

Há porém, a assinalar que sua decadência muito antes da construção da estrada de automóveis Macahyba-Natal, começou com as dificuldades de navegação do rio, cuja obstrução lentamente se foi fazendo, aumentando em extensão e diminuindo em profundidade.

Debalde reclamavam os seus habitantes o melhoramento dessa situação, a que os poderes públicos faziam ouvidos moucos, já pelas dificuldades e custo de dragagem, já porque o comércio do interior, servido por outros meios de transporte, não fosse de tal forma subordinado ao rio que dele não pudesse prescindir como instrumento de troca e por conseguinte de riqueza e prosperidade.

O melhoramento tardio realizou-se agora na administração do dr. Raphael Fernandes, por intermédio do Departamento de Agricultura, Viação e Obras Públicas. O que parecia impraticável não ofereceu, em verdade, dificuldades maiores, nem acarretou dispêndios incompatíveis com às forças do erário público. Apenas em vez da escavação ser feita pelo esforço individual do operário, trabalho por sua natureza de pequeno rendimento e caro, o foi pelo serviço mecânico de uma draga “Pristman” da inspetoria de Portos e manejada por pessoal competente, cedido pelo dr. Edgar Chermonet, chefe da Fiscalização do Porto de Natal.

Essa draga fez em tempo curto o melhoramento de um kilômetro de rio, a uma profundidade que permitiu restabelecimento da navegação usual e bastante às necessidades do comércio, cuja prosperidade já recomeça e terá de progredir, graças a esse meio de transporte ainda agora sem competidor no preço dos fretes.

A população daquela velha cidade está assim contente e só tem motivos para bendizer o governo que se lembrou de lhe prover uma necessidade há tanto tempo reclamada.

Em verdade, Macahyba por uma fatalidade grographica e econômica não volverá aos seus dias de antigo prestígio, mas conseguirá até certo ponto restabelecer o rítimo de suas trocas em condições menos onerosas e por conseguintes mais lucrativas.

“A República” – 13/01/1938 | Por Eloy de Souza
 
 Natal/RN - Brasil,