Instituto José Maciel

A TRAVESSIA LITERARIA DE LUIS ROMANO

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Natal foi morada de um escritor de renome internacional, o romancista, poeta e folclorista Luís Romano de Madeira Melo, um dos autores mais importantes da literatura cabo-verdiana. Foi na capital potiguar, em 1962, que ele encontrou semelhanças agradáveis com Cabo Verde, de onde fugiu perseguido por encampar o movimento pela independência do país. Em Natal publicou a maior parte de sua obra, até falecer em 2010, deixando um acervo de mais de 1700 livros, além de manuscritos e textos inéditos.

Depois de 7 anos parado, sem qualquer interesse local pelo material, o acervo de Luís Romano ganhou um destino: será transferido para Cabo Verde, onde integrará à Biblioteca Nacional do país. O material foi despachado ontem (5), com registro do fotógrafo e documentarista Marcelo Buainain, que está produzindo um documentário sobre o escritor, cujo um pequeno apanhado será disponibilizado na internet em breve.

O acervo estava armazenado no Instituto Macaíba, sob os cuidados da professora Simone Caputo, que ensina Literatura Cabo-verdiana na USP. Ela foi nomeada como curadora do material pela filha do escritor, Teresa Melo. Depois de visitar o acervo, limpar e catalogar as obras, Simone sugeriu a doação do material para o país de origem do escritor, onde poderia ser usufruído pela população local. "O acervo de Luís Romano é rico em obras de autores de cabo-verdianos, portugueses e brasileiros. Seria maravilhoso para os meus alunos ter acesso a esse material. Mas também seria egoísta da nossa parte querer ficar com algo tão precioso para Cabo Verde. Conversei com a filha do escritor e ela aprovou a ideia de doar para a Biblioteca Nacional de lá", diz por telefone a professora.

Simone informa, no entanto, que os manuscritos e textos datilografados ainda não foram enviados porque estão sendo analisados em São Paulo. "Estamos trabalhando em cima desse material. Luís Romano deixou muitas coisas inéditas e há diversas editoras africanas interessadas em publicar", conta a professora. Dos materiais inéditos, ela diz que Luís Romano deixou escritos de poesia e ficção, além de estudos sobre o Brasil. Sobre o Rio Grande do Norte, Estado onde viveu quase 50 anos, ele desenvolveu pesquisas sobre o vocabulário e costumes locais, nos moldes do que realizou sobre a cultura cabo-verdiana. "Mas é prematuro detalhar o material inédito de Luís Romano. Ainda há muito para ser analisado", ressalta a professora.

Em Natal, um dos grandes amigos de Luís Romano foi o xará Luís da Câmara Cascudo. Foi do potiguar o prefácio da primeira edição do romance "Famintos" (1962), livro mais conhecido do cabo-verdiano. A obra retrata a extrema situação de miséria que o povo de Cabo Verde vivia no período em que foi colônia de uma Portugal Salazarista. "Famintos' é um livro fundamental da Literatura de Cabo Verde. Chega a ser rude pelo modo ultra realista que o autor aborda a violenta ditadura de Portugal sobre o país", comenta Simone.


Câmara cascudo, seu amigo e autor do primeiro prefácio

Coube a Simone a responsabilidade de publicar o primeiro livro póstumo de Luís Romano: "Comentários Literoverdianos". A obra, com 500 páginas, reúne trabalhos sobre a história da literatura cabo-verdiana e foi entregue à professora pelo próprio autor antes de falecer. O lançamento será no dia 16 de fevereiro, em Cabo Verde, um dia depois da chegada do acervo do escritor. "Luís Romano é um autor que ficou esquecido no país dele. Passou muito tempo fora. Embora seja um nome conhecido e tido como importante, precisa que sua obra volte a circular em Cabo Verde", afirma a professora.

Tribuna do Norte - 06.02.2018
Repórter do viver - Ramon Ribeiro
Foto: acervo pessoal
 
 Natal/RN - Brasil,