Instituto José Maciel

Padre Jose Maria Biesinger

E-mail Imprimir PDF

O padre José Maria Biesinger, alemão e radicado em Natal por mais de 60 anos, inicialmente, prestando serviços religiosos na Igreja Matriz do Bom Jesus das Dores, localizada no bairro da Ribeira, onde já residiam outros padres da Congregação da Sagrada Família, quase todos alemães.

 

Foi, o padre José Biesinger, homem paciente, de uma pobreza quase franciscana, como eram todos aqueles religiosos da Congregação da Sagrada Família.

 

Com o correr do tempo, o padre José Biesinger, passou a assistir paróquias mais distantes, localizadas na periferia de Natal, como a Redinha, Extremoz, Coqueiros e pequenas Capelas pelas praias que, aos domingos visitava aquelas localidades, cumprindo longo e penoso trajeto, utilizando barcos para atravessar o Potengi, em "lombos" de cavalos e burros e "caronas" de caminhões, retornando, "ás vezes", no dia seguinte, levando a palavra de Deus e assistindo os mais necessitados das praias, sem nunca ter reclamado de tão difícil missão.

 

Com as modificações ocorridas na administração da Igreja do Bom Jesus, na Ribeira, o padre José Biesinger, passou a residir na Paróquia de São Pedro, no Alecrim, da mesma Congregação, continuando a sua vida evangelizando os mais humildes, levando a todos a sua bondade e sua simpatia.

 

Assim se pronunciou no dia seguinte ao seu falecimento: "A Oração dos Fiéis foi lida por Dom Costa e no ofertório cantaram: "Sabe, Senhor, o que temos é tão pouco prá dar, mas este pouco, nós queremos com os irmãos compartilhar". Na comunhão, foram cantadas a Oração de São Francisco ("Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz") e um salmo de Davi ("Vois sois meu pastor, ó Senhor, nada me faltará, se me conduzes"). Após a missa, dom Nivaldo fez a encomendação do corpo, que foi aspergido com água benta pelos sacerdotes. Com o povo cantando a tradicional música missionária "No céu, com minha mãe estarei", o corpo do padre José foi levado ao Cemitério do Alecrim. A benção ao túmulo foi dada por dom Antonio Costa. A sepultura fica ao lado direito da entrada do cemitério, abaixo das sepulturas de Vivaldo Pereira de Araújo Filho (de cujo pai, o padre José foi confessor) e do ex-prefeito de Natal, Djalma Maranhão. Terminada a benção, todas as flores foram recolhidas ao sepulcro. Estava entregue à terra, o corpo de um sacerdote. É incontável o número de pessoas a quem batizou, casou e orientou nos caminhos da vida. E, na morte, esteve rodeado pelo carinho da comunidade. E pela memória, para sempre eterna, da vida dedicada ao serviço, à promoção do homem todo e de todos os homens.

 

Grande amigo do padre José Biesinger, o jornalista Sanderson Negreiros escreveu logo após o sepultamento: "Há pouco, vendo-o descer à terra, que acoberta a sua matéria inanimada, mais do que nunca é imperioso repetir a definição teológica de que realmente, há uma vida que começa com a morte. Padre José Biesinger, nascido na Floresta Negra, Alemanha, há sessenta e tantos anos no Brasil, em missão de apóstolo, morre agora quase aos 90 anos, 89 para sermos exatos. Todo esse tempo foi voltado para a missão exclusiva de fazer o bem. Viveu a vida em função da caridade cristã. E, diante dele, nada mais oportuno do que a pergunta de São Paulo: "Morte, tua vitória onde está?" Batizou-me e batizou o meu filho. Suas mãos santificadas esparziam constantemente poderosos fluidos, invisíveis a olhos profanos, vi-o, muitas vezes, rindo o riso da mais profunda bondade humana; ou sua mão, em gestos lentos, como se voasse, perdoando no confessionário. E nos dizia: "O que mais amo são as crianças e contemplar as estrelas no céu noturno". Já tinha conseguido chegar à via unitiva: de união com a Realidade Maior, que só é dada ao vôo dos grandes místicos. Acordava às duas horas da madrugada para rezar. E orava até as cinco da manhã, quando ia celebrar a missa. Nesse horário de preces, sabe-se que teve revelações e visões do Mundo Espiritual. Perguntávamos muito isso a ele. Ele ria, escondendo a frase, mas sem deixar trair a evidência de que era já um comparsa do Absoluto".

 

"Num mundo egoísta e frívolo como o nosso, parece até contraproducente eleger-se um homem que só praticou a pobreza, a bondade e o silêncio. Já doente, velhinho, não deixava de percorrer as praias, da Redinha até Muriú. A pé, a cavalo, de carona, em velho jipe, com o povo, atravessando de "cadeirinha", de margem a margem, dos pequenos rios que desembocam no mar, lá estava ele, novo padre Anchieta. Se este escrevia poemas à Virgem, à beira da praia de Iperoig, padre Zé, com seus passos lentos e mansos, sulcava, na areia branquíssima, que o sal do mar purifica, o ritmo de um corpo cujo centro de gravidade era Deus e cuja razão de existir era diminuir, um pouco o sofrimento no coração dos homens. Era belo vê-lo, ontem pela manhã - centenas de pobres, o povo verdadeiro, desfilando diante de seu caixão - beijando-o a face e colocando sobre o corpo (a se desfazer), rosas, flores, rosas suburbanas, flores de quintais. Era o povo que o amava, que dele recebeu um instante de paz, de compreensão e de amor. Povo das Quintas profundas, das Rocas melancólicas, de Genipabu, das praias desconhecidas. Na hora de tanta crise na Igreja, mais do que nunca precisa-se de santos como o padre Zé.

 

De cristãos que se disponham, até ao martírio da santidade: isso significando: praticar o amor e a bondade, pensar nas feridas alheias, fazer o Bem com constância mil vezes superior aos que já se ocupam gratuitamente de praticar e distribuir o Mal.

 

Lembro-me, padre, morando na humilde Igreja de Extremoz. A solidão em volta. A pobreza maior. A então pequena vila, que de si tinha somente a beleza enorme da lagoa. Eu era menino. Deve ter sido a primeira revelação que tive a felicidade de sentir. Ao olhar padre Zé naquela paisagem, entendi o sinal e presença de Deus. E de alguém que tinha vindo ao mundo com a missão de revelar a mensagem do alto. Em silêncio, como a luz da estrela que morre".

 

O jornal "A Ordem", publicou em 17 de maio de 1938, notícia sobre as Bodas de Prata do Padre José Biesinger, ocorrida em 15 daquele, assim: No dia 15 do corrente completou 25 anos de sacerdócio o Revmo. Pe. José Biesinger, da Congregação da Sagrada Família, atual vigário das Paróquias de Lages e S. Tomé.

 

O Revmo. Pe. José Biesinger nasceu em Oberndorf-Wuttembergo (Alemanha), a 6 de junho de 1886, e é filho do Sr. Zacarias Biesinger e de d. Ursula de Maia Biesinger. Ingressou na Congregação da Sagrada Família em 4 de setembro de 1904, fazendo os primeiros votos a 4 de outubro de 1908. Ordenou-se sacerdote na Capela de Nôtre Dame-Grave (Holanda) a 15 de agosto de 1913, onde cantou a sua 1ª missa. Chegado ao Brasil em 1922, passou 7 meses na Casa da Congregação, no Recife, vindo para o Rio Grande do Norte, há mais de 15 anos. Foi vigário do Alecrim e esteve em Patú. O padre José Biesinger foi um eterno e bom amigo de Silvino Bezerra Neto, até mesmo na negra manhã de março, em que foi visitar seu velho amigo Silvino que se finava. Permaneceu ao seu lado até o ultimo minuto, quando saiu chorando o amigo perdido.

 

Luiz G. M. Bezerra

 

Nota: O padre José Biesinger foi um eterno e bom amigo de Silvino Bezerra Neto, até mesmo na negra manhã de março, em que foi visitar seu velho amigo Silvino que se finava. Permaneceu ao seu lado até o ultimo minuto, quando saiu chorando o amigo perdido.

 

O jornalista, escritor e poeta Sanderson Negreiros, em texto publicado em 1970, relembra e homenageia uma das figuras mais queridas da história da Redinha, que muito proferiu louvores durante as procissões em homenagem à padroeira do bairro: o padre José Maria Biesinger, mais conhecido como Padre Zezinho, o primeiro pároco da Capela Nossa Senhora Dos Navegantes.

 

Assim se referiu Sanderson Negreiros ao padre: “Seu trabalho apostólico foi poema vivido, incessante e contínuo, a distribuir bondade entre os humildes, ele tão pobre, tão só, dando de si a pobreza material, enriquecida pelos dons com que Deus o fez mensageiro”.

 
 Natal/RN - Brasil,