Não sei olhar a Praça Pedro Velho com os olhos de homem feito. Saltam lá de dentro, como se vivessem escondidos em algum lugar da alma, os olhos do menino refazendo aquele território encantado da última infância. Onde a pracinha que aprendi a ver quando cheguei aqui, há mais de meio século? Os fÃcus nas esculturas nascidas das mãos dos jardineiros, os tanques onde moravam as tartarugas, o coreto elevado e os bancos desenhando as curvas verdes das suas pequenas alamedas?
Naquele tempo, graças a Deus, não era cÃvica. Era só Pedro Velho. Homenagem sincera ao nosso
proclamador da república.  Com seus olhos de bronze como se ainda olhassem a velha mata de Petrópolis, onde viveu, passeou a cavalo, foi o visitante ilustre do Principado do Tirol do amigo Coronel Cascudo, pai de Cascudinho. Com aquela dama e seu vestido longo que não cansa nunca de estender o braço e oferecer um buquê de flores. Como se a vida estive parado num instante mágico.
Um imenso território humano se limitava, na sua geografia Ãntima, com as Avenidas Prudente de Morais e Floriano Peixoto, entre a Potengi e a Trairi, como se fossem reios correndo para a Ribeira. Não este lugar de hoje, tão comum em tudo, cercado de escritórios, prédios públicos, consultórios e repartições. Ali viviam velhas famÃlias da cidade e, na esquina, com suas varandas suspensas sobre uns porões misteriosos, espiava a praça a bela casa de CÃcero de Souza, hoje desaparecida, onde fizeram com a pedra e a cal da insensibilidade um hotel com nome em inglês.